Acusada de seqüestro, família faz sua defesa

Injustiça, manipulação de informações ou aplicação da lei? Três mulheres presas na semana passada sob acusação de seqüestro, cárcere privado e formação de quadrilha – uma delas com 78 anos de idade – quiseram dar sua versão dos fatos, alegando que a imprensa nunca divulgou todas as informações sobre o caso Smoraleck. Para elas, apenas um dos lados – a família da vítima -está sendo beneficiado.

As três são parentes de Aristóteles Smoraleck Júnior, acusado de assassinar a esposa Luciene Ribeiro de Paula, de 19 anos, há quatro anos, em Santiago do Chile. Elas estão recolhidas na carceragem do 9.º Distrito (Santa Quitéria) há nove dias. Foram presas em flagrante por estarem com Vanessa, uma menina de cinco anos de idade, filha de Luciene, que era criada por elas desde bebê. As três dividem espaço com outras 73 mulheres em um xadrez superlotado, construído para abrigar, no máximo, 30 detidas. Leci Smoraleck, 55 anos, mãe de Aristóteles; Maria Brasílio, 78, mãe de Leci, e Maria Luiza Rosa, 36, filha de Leci, perguntam onde está a Justiça neste caso.

Leci conversou com a reportagem da Tribuna durante mais de duas horas. Entre crises de choro, relembrou a história do relacionamento de Aristóteles (que ela chama de Júnior) com Luciene. Em nenhum momento afirmou ter certeza de que o filho é inocente no caso do assassinato. “Ele nega, mas eu não estava lá no Chile para dizer o que aconteceu ou não. Só posso te contar o que aconteceu aqui, o que eu passei, o que eu vi”.

Pai?

Leci disse que a imprensa não relata que Luciene era prostituta e trabalhava em uma boate na Rua Cruz Machado quando conheceu Aristóteles. E também que ela tem outro filho, mais velho que Vanessa, de pai ignorado, que esteve sempre sob os cuidados da família de Luciene. “Como é que uma garota de programa vai ter certeza de quem é o pai dos filhos dela?”, questionou Leci, lembrando que a Justiça concedeu a guarda de Vanessa a José Divonzir dos Santos, um motoboy de 27 anos que alega ser o pai biológico da criança, sem ao menos fazer um exame de DNA.

Ela também lembrou que, logo que Aristóteles levou Luciene e o bebê para morar com ele, na casa da família, a garota disse: “A senhora vai fazer o favor de cuidar dessa menina pra mim. Eu não gosto de criança, não quero saber de criança”. Vanessa tinha, na época, quatro meses de idade, e segundo Leci era um bebê magro, desnutrido e malcuidado.

“Eu e meu marido criamos essa menina como filha. Botamos na escola, educamos, ultimamente ela até me chamava de mãe, sem eu nem pedir. Logo depois que a Luciene chegou lá em casa com ela pequenininha, a Vanessa foi internada no Pequeno Príncipe com pneumonia. Tinha cinco meses e quem cuidava dela era eu e mais uma babá que contratei para passar as noites no hospital. A avó dela, Maria, mãe da Luciene, não foi visitar a menina nenhuma vez no hospital”, contou.

Visitas

Segundo Leci, depois que Luciene morreu e Aristóteles foi preso, Maria aparecia para visitar Vanessa aos domingos. “Sempre vinha na hora do almoço de domingo, trazendo junto mais um bando de gente. Eu nunca neguei nada, dava comida pra todo mundo. Um dia, pedi pra ela não trazer tanta gente, que tirava minha liberdade em casa. Foi aí que ela se irritou e falou que ia fazer de tudo pra tirar a Vanessa de mim e me prejudicar”.

Advogado espera libertá-las em breve

O advogado Osmann de Oliveira, defensor de Leci Smoraleck, Maria Brasílio e Maria Luiza Rosa, espera conseguir colocá-las em liberdade nas próximas horas. Ele classificou a prisão das três – e também do neto de Leci, Marcelo Brasílio Rosa, que está detido no Centro de Triagem sob as mesmas acusações de seqüestro, cárcere privado e formação de quadrilha – de “arbitrárias”.

Leci contou como foi a prisão delas. “A polícia chegou na nossa casa às 7 da manhã, arrombando a porta e apontando armas. A delegada tirou a Vanessinha da cama, ela ainda estava dormindo. Depois foram dizer que a menina estava suja, malcuidada.”

Na cadeia, Maria Brasílio, que está dormindo no chão da carceragem, nunca derramou uma lágrima – suporta tudo quieta, mas ao sair da carceragem para dar entrevista demonstrou sua revolta. “Como eu e minha filha estamos aqui como se fosse bandidas, como é que pode isso? Segundo Osmann de Oliveira, manter uma mulher de 78 anos encarcerada fere um princípio básico da Constituição Federal. “Cabe ao Estado proteger pessoas idosas.”

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