Voz da razão

Então, fica combinado assim: todos estão autorizados a cometer os desatinos que bem entenderem, sem dar a menor bola às perdas pessoais e coletivas que os mesmos ocasionem, conquanto estejam convencidos a aceitar com humildade a máxima cristã de pedir perdão, aliás, sentimento adequado ao tempo dedicado para refletir sobre a morte e ressurreição do Filho de Deus.

Os controladores de vôo certamente se deixaram impregnar pelo espírito da Páscoa e assimilaram a extensão dos danos infligidos a milhares de passageiros de companhias de aviação, desde a fatídica queda do avião da Gol, no ano passado.

Depois de seis meses resolveram pedir perdão pelas intermitentes agressões ao direito da cidadania de ir e vir, fruto do mau uso político da prerrogativa funcional de fiscalizar o tráfego aéreo – função essencial para a segurança -, bastando seguir as prescrições da chamada operação-padrão para desencadear pelo País uma gigantesca onda de atrasos e cancelamentos de vôos e, por conseguinte, a angústia dos passageiros e seus familiares.

A decisão dos controladores de vôo de chamar a atenção para os problemas internos da categoria, que existem e clamam urgente solução do canal competente, no caso a Aeronáutica, acabou precipitando uma crise político-militar no seio do governo Lula, cuja gravidade poderia fugir do controle e gerar incontáveis prejuízos institucionais.

Em bom momento, o presidente ouviu a voz da razão e mesmo atropelando determinações despachadas antes, algumas descabidas, como a desautorização da ordem de prisão dos líderes da greve, emitida pelo brigadeiro Juniti Saito, comandante da FAB, decidiu agir como legítimo chefe de governo, transferindo o imbróglio a quem de direito.

A nota da Associação Brasileira dos Controladores de Tráfego Aéreo (ABCTA), assinada pelo sargento Wellington Rodrigues, presidente da entidade, além de perdão, pede que a sociedade ouça o ?grito de socorro? da categoria e não apenas a ocorrência de mera rebelião militar.

Os controladores conhecem os riscos da desobediência à rigidez da disciplina. Querem agora a complacência dos que afligiram com requintes de crueldade. É a Páscoa…

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