Você depositaria seu dinheiro num banco falido?

Essa pergunta do jornalista Franklin Martins, num telejornal nacional, nos faz pensar na oferta de ensino superior em nosso País. E essa reflexão faz surgir alguns questionamentos interessantes e que merecem nossa total atenção.

O último censo educacional mostrou que, no Brasil, 2/3 dos estudantes universitários estão em instituições particulares, nelas investindo tempo e dinheiro. Sabemos, também, que, na busca por um posto no mercado de trabalho, tem bastante peso informações sobre a vida acadêmica do candidato. Portanto, a instituição universitária deve ser uma referência sólida tanto em termos de qualidade de ensino como de seriedade de proposta pedagógica.

Uma observação do cenário nacional revela a necessidade de ampliar a discussão. Na última década vimos o surgimento de uma infinidade de cursos, variando na duração, na área profissional e na qualidade da oferta. Nos últimos cinco anos, as vagas autorizadas na primeira série dos cursos de graduação triplicaram. Na Região Metropolitana de Curitiba, por exemplo, esse número saltou de 19,6 mil para 60,9 mil vagas, de acordo com levantamento dos professores João Matias Lock e Dálcio Roberto Reis, do Cefet-PR. Sem dúvida, a ampliação da oferta que se registra democratiza o acesso à educação superior, em cumprimento à Constituição, que trata a educação como direito de todos. Mas isto é só o ponto de partida. Os tempos mudaram, e hoje graduar-se não faz mais “a” diferença, como ocorria na década de 80. Hoje vale a pergunta sobre a qualidade dessa graduação. Logo, envolve a instituição na qual se estudou.

É indiscutível que o crescimento intelectual, o amadurecimento cultural e o desenvolvimento de competência são conseqüência do esforço e dedicação do aluno. Mas não há como negar que o reconhecimento público da instituição de Educação Superior é um valor agregado ao currículo que o acompanhará durante toda sua vida profissional. Daí porque a escolha dessa instituição, por parte do aluno, é processo que exige, além da certeza da autorização oficial de funcionamento, um olhar crítico sobre o seu projeto pedagógico, bibliotecas, laboratórios, atividades de pesquisa e extensão, titulação e experiência do corpo docente, produção científica, atividades culturais, enfim, sobre a vida acadêmica em plenitude.

Mas, exige ainda mais. O estudante deve se perguntar sobre a “saúde” financeira da instituição (sem isto, há falta de investimentos, professores mal pagos, e assim por diante), sobre as relações com a comunidade interna e externa, se há respeito à ética profissional, se as suas ações são coerentes com sua proposta pedagógica e de inserção social. Enfim, é preciso que o estudante pergunte e se informe sobre o que se pode chamar de “reputação pública” da instituição na qual pretende ingressar.

Esses cuidados são extremamente importantes para começar sua vida profissional “com o pé direito”. Os muitos bancos que faliram, em nosso país, deixaram para seus fiéis depositantes apenas uma indesejável lembrança na memória, porque, afinal, o governo acabou se apresentando para socorrê-los. É preciso, porém, cuidado com o “calote” educacional. O que pode fazer um profissional quando a instituição que chancelou seu diploma venha a se envolver em escândalos, manchar sua reputação, ser punida por desrespeito às normas legais ou ser afetada por processo de falência? O fato que não podemos ignorar é que, na verdade, o nome da instituição será sempre o “sobrenome” profissional do seu aluno. Mas a vantagem é que, neste caso, sempre temos a liberdade para escolher o nosso sobrenome.

Teofilo Bacha Filho

é vice-presidente do Conselho Estadual de Educação do Paraná.

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