Vivendo de esperanças

Estamos vivendo de esperanças plantadas por promessas. Quando se descobre no campo econômico alguma coisa que melhorou, mesmo que seja muito pouco, agarramo-nos a ela para reafirmar que a esperança é a última que morre. Os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) sobre o comportamento do PIB (Produto Interno Bruto) no último trimestre e em período mais longo, que abrange todo o governo Lula, são desanimadores. Como o PIB é a soma de todas as riquezas produzidas no País e a renda per capita é a divisão desse montante pelo número de habitantes, descobrimos o que hoje é óbvio: estamos todos mais pobres. E cada vez mais pobres, porque os resultados do PIB devem responder também ao crescimento demográfico, para calcular a verdadeira renda per capita. Há baixa produção para mais gente e, portanto, o milagre do desenvolvimento prometido em julho não aconteceu naquele mês nem neste ano que se encerra. O que houve foi a praga do empobrecimento.

No terceiro trimestre do ano, o PIB cresceu irrisórios 0,4%. No segundo trimestre, encolheu 1,2%. Nos nove primeiros meses do ano, o espetáculo foi uma queda de 0,3%. Encolhemos. O governo esperava números melhores, embora as autoridades econômicas não cheguem a nenhum acordo. O Ministério da Fazenda prevê uma alta de apenas 0,4%, enquanto o Ministério do Planejamento, mais otimista, fala em 0,8% em 2003. Já o Banco Central estima o crescimento em 0,6%. E o mercado fala em 0,68%. Parece coisa de cartomante, pois sejam quais forem as expectativas, há respostas. Pode ser isto, se não for aquilo e outras variantes.

A verdade verdadeira é que, nos últimos anos e principalmente neste governo, fomos de mal a pior, quando este imenso Brasil, por sua extensão territorial, significado político no mundo em desenvolvimento e numerosa população, precisa de altos índices de desenvolvimento. O desemprego, nosso maior mal, cresceu 21,7% em 12 meses, contra uma promessa mirabolante de criação de 10 milhões de postos de trabalho. A renda dos trabalhadores, da qual depende a reativação da economia, passo de desenvolvimento, caiu pelo décimo mês consecutivo. Se o trabalhador ganha cada vez menos, não há como o comércio vender e a indústria produzir em níveis de milagre, nem mesmo com reza braba. A fé remove montanhas. E se remove, esperemos que a que depositam no atual governo remova a montanha de problemas que estamos acumulando, sob pena de perdermos, de vez, o bonde do desenvolvimento.

Não temos política industrial, o que seria imprescindível existir já quando assumiu este governo. Mas só agora sai um documento, apresentado pelo ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan, elegendo os setores de semicondutores, software, fármacos e medicamentos e bens de capital como prioridades. Quatro grupos de trabalho, um para cada setor, vão agora, ou depois do Ano Novo, o que é mais provável, detalhar com que instrumentos o governo pretende estimular o desenvolvimento dessas áreas. Esses grupos só serão instalados no dia 10 de dezembro, depois que o documento de Furlan for apresentado aos integrantes do “conselhão”, o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social.

A grande pergunta é: cadê o dinheiro para promover o desenvolvimento nessas áreas? E as grandes dúvidas pelos setores escolhidos, pois aparentemente nenhuma delas oferecerá resultados a curto prazo. E a longo prazo, como dizia o Delfim Neto, todos estaremos mortos.

Voltar ao topo