Visita de Lula ainda é destaque nos jornais franceses

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva já se encontra em Brasília, mas os ecos de sua viagem à Europa ainda permanecem fortes. Os jornais franceses continuam destacando seu encontro com o presidente francês Jacques Chirac que o recebeu com todas as honras, apesar dos dois chefes de Estado virem de “horizontes políticos radicalmente diferentes” como afirmou o jornal Le Monde na sua edição de hoje.

Chirac falou de um perfeito entendimento entre os dois e Lula disse que esse entendimento se dá em 99% dos casos. Esse 1% que falta diz respeito ao protecionismo agrícola francês. A porta voz do presidente francês, Catherine Colonna, disse que o presidente francês foi quem abordou , “em primeiro lugar”, a questão agrícola, disposto a discuti-la, mesmo porque está convencido de que “as subvenções à agricultura mais importantes não são as européias, mas sim e de longe as norte americanas”.

Junto aos meios políticos socialistas franceses, hoje muito próximos de Lula, discutia-se ontem em Paris a qualidade dos últimos dois presidentes brasileiros, Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio da Silva. As diferenças políticas e ideológicas que marcaram esses dois homens, apesar de ambos construíram suas carreiras lutando contra a ditadura, hoje são menores do que se imaginava com a evolução do presidente atual do PT buscando condições de governabilidade. O discurso do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso na Assembléia Nacional da França, em 2001, foi ontem lembrado como uma peça oratória que qualquer deputado do PS assinaria sem hesitar.

A política de alianças com a direita clássica brasileira desenvolvida pelo antigo presidente sempre foi muito criticada afastando-o de grupos e partidos de esquerda europeus, inclusive da própria Internacional Socialista. Hoje, Lula não apenas dá continuidade a política econômica de seu antecessor, mas também adota uma política de maior abertura para grupos mais conservadores que participam do governo.

Segundo alguns dirigentes socialistas, Fernando Henrique Cardoso é definido como “o príncipe”, um intelectual de primeira linha que discute Platão e Maquiável, enquanto Lula é o plebeu, um dirigente forjado nas camadas mais populares, um homem de fala franca e direta, mas fortemente identificado com as aspirações das populações mais carentes e muito firme nas suas convicções.

Ainda ontem, o deputado Noel Mamére, candidato à presidência da República dos verdes, citava o modelo brasileiro como lição a ser meditada na França, da mesma forma que o próprio primeiro secretário do PS francês, Francois Holande, que esteve com o presidente Lula duas vezes em uma semana, em Brasília e em Paris advertiu que eram os franceses que deveriam apreender a lição brasileira, apesar de não acreditar nessa evolução em razão do sectarismo dos partidos de extrema esquerda na França.

Liberation e Davos

O impacto dos discursos do Fórum Social Mundial, de Porto Alegre, e de Davos foi tal junto aos políticos europeus, principalmente os socialistas e sociais democratas, que o jornal Liberation decidiu, ao invés de abrir espaço para a cobertura clássica da visita, reservar duas páginas de sua edição de ontem, publicando a íntegra de seu discurso do presidente Lula na Suíça, como se fosse um artigo assinado pelo presidente brasileiro, no qual preconiza “a fundação de um pacto mundial para a paz e contra a fome”.

O jornal La Tribune, voltou a destacar a presença de Lula na Europa dizendo que em Paris, o presidente brasileiro criticou mais os Estados Unidos do que a Europa sobre as desigualdades do comércio mundial. O jornal conservador, Le Figaro talvez tenha sido o que abriu maior espaço para o presidente brasileiro dizendo que ele se afirmou como “o porta voz dos países emergentes”. Ele é tido pelo jornal como a vedete mais disputada no momento pelas capitais européias. “Mesmo se eles vem de horizontes diferentes, Chirac e Lula são feitos para se entender por serem homens pragmáticos com uma sensibilidade social importante”, analisa Jean Michel Blanquer, que preside o Instituto de Altos Estudos da América Latina.

Um levantamento feito por esse mesmo jornal revela que os partidos políticos franceses tem se mostrado cada vez mais preocupados com os efeitos da globalização, temendo ameaças sobre o modelo sócio-econômico nacional. No PS constata-se um forte debate entre realistas e idealistas, enquanto que para o partido de Chirac, a União pela Maioria Presidencial, mesmo se a globalização seja um fato, seus defeitos encobrem suas virtudes.

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