Visibilidade da corrupção

O ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, interrompeu por um dia suas férias para fazer um balanço da atuação do governo federal no combate à corrupção. Sua conclusão foi de que a corrupção que explode em todos os cantos do País, nos governos municipais, estaduais e federal, além das estatais, não aumentou. Apenas ficou mais visível porque na administração Lula está sendo mais combatida que nas administrações anteriores. Seria uma praga endêmica, existente neste e em todos os governos, e que só parece maior e mais ampla na administração do PT e associados porque, agora, há uma ação enérgica de investigação e combate.

Tal explicação lembra o que se disse, com propriedade, quando um estudante chinês solitário tentou parar um tanque de guerra em praça pública, em Pequim, num gesto simbólico de resistência ao comunismo. Na época, concluiu-se que não foi o mundo que melhorou ou piorou, mas a imprensa que se tornou mais livre e abrangente em seu noticiário, levando a todo o mundo a imagem da atitude heróica do jovem solitário. Mas, mesmo divulgado, o massacre dos estudantes chineses aconteceu e comoveu o mundo.

O ministro da Justiça levou suas conclusões ao presidente Lula e os dois devem ter batido palmas para a eficiência de seu próprio governo no combate à corrupção, esquecendo-se de que ela continua existindo, aprofundando-se, espalhando-se como uma praga e atingindo intestinamente a própria administração federal. E que este governo foi eleito prometendo mudar. Em matéria de corrupção, a única mudança teria sido torná-la mais visível. Mas não menor.

Esqueceu-se, também, que todas as demais mudanças prometidas, especialmente no campo social, deveriam criar no País um clima de justiça capaz de diminuir o ranger de dentes e a violência que as iniqüidades sociais plantam e irrigam. Há fome, desemprego, péssima assistência à saúde, insegurança, baixos salários, falta de moradias, precário sistema de educação, sistemas de segurança pública até coniventes com o crime, quando não têm em seu seio os próprios criminosos. Enfim, o Brasil que iria mudar e, se tornando mais justo socialmente, reduziria a criminalidade, não aconteceu e parece que não está acontecendo.

Esqueceram-se os que se reuniram para aplaudir a visibilidade da criminalidade das providências que têm sido tomadas pelo governo central para camuflar atos evidentes de corrupção, em especial quando envolvidas estão pessoas de alguma forma ligadas ao governo, muitas vezes parte dele. Evitam-se as CPIs, um Waldomiro Diniz vê eternizar-se, livre, o processo contra o achaque a bicheiros que praticou, sendo homem ligado à cúpula petista; o presidente do Banco Central, acusado não só de permitir a criticada taxas de juros, mas também de graves atos de manipulação de dinheiro como empresário e sonegação, é blindado com o status de ministro. Repetem-se as medidas de defesa para excluir os aliados da visibilidade na onda de corrupção.

As desculpas do ministro levadas a Lula explicam, mas não justificam.

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