Violação do sigilo bancário do caseiro ainda permanece obscuro

Três semanas após a violação do sigilo bancário do caseiro Francenildo dos Santos Costa, o "Nildo", que provocou a queda do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, e do presidente da Caixa Econômica Federal (CEF), Jorge Matoso, um episódio ainda permanece obscuro: a informação de que o caseiro teria mais dinheiro do que ganhava. No depoimento à Polícia Federal (PF), Palocci começou a jogar uma luz nessa parte da história. O ex-ministro disse ter tomado conhecimento de que "Nildo" tinha dinheiro que poderia ser considerado suspeito, a partir de uma informação que obtivera da jornalista Helena Chagas, diretora da sucursal do jornal "O Globo" em Brasília.

Essa declaração de Palocci, associada a uma história contada pelo senador Eduardo Suplicy (PT-SP), durante a sessão da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Bingos que tomou o depoimento de "Nildo", pode explicar a origem da informação que culminou com a devassa fiscal e bancária do caseiro. A jornalista mencionada pelo ex-ministro mora numa casa vizinha àquela que ficou conhecida como a mansão da "República de Ribeirão Preto", no Lago Sul, em Brasília. Seu jardineiro teria comentado com os patrões que "Nildo" o encarregara de conseguir um lote para que ele comprasse. E lhe entregara uma parte do dinheiro para a operação. Algo em torno de R$ 15 mil.

Na tentativa de apurar melhor esse fato, a jornalista teria comentado com o senador Tião Viana (PT-AC), líder do governo no Senado, que passou a informação a Palocci. Este, então, procurou a jornalista para tentar saber mais detalhes. Mesmo sem obter qualquer informação a mais da jornalista, conforme informa nota formal de "O Globo", Palocci deflagrou o processo de violação da conta de "Nildo", em operação que ele nega, mas da qual a PF tem certeza de que foi o mandante. A esperança depositada pelo ex-ministro na possibilidade de o saldo de "Nildo" provar que seu depoimento à Agência Estado fora comprado, o fez acionar instâncias da burocraci do Estado numa seqüência de operações que fizeram o extrato parar na redação da revista "Época" – a única que detém a identidade do mensageiro de Palocci.

Como a revista tem a prerrogativa legal de preservar o sigilo da fonte – e a exercerá, segundo seu diretor, Hélio Gurowitz -, à PF resta tentar a confirmação desses fatos tomando os depoimentos da jornalista, de seu jardineiro e aguardar o pedido de quebra dos sigilos dos envolvidos (Palocci, Mattoso, Marcelo Netto, assessor de imprensa de Palocci) para chegar a uma conclusão. Por enquanto, a PF tem apenas uma certeza: Palocci foi o mandante e seu depoimento, o de Mattoso e o de Marcelo Netto foram combinados para chegar a uma versão que aponte todos os manuseadores do extrato de "Nildo", mas que mantenha oculto o sujeito da operação principal: aquele que entregou à revista a prova do crime – o extrato de "Nildo".

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