Vida de repórter não é fácil

Não é fácil. Não me lembro em que momento da posse do governador Requião eu falei isso (na transmissão da Capital Play e das rádios Capital AM e FM de Cascavel), mas tenho certeza que foi em um daqueles de maior calor para os dignos representantes da imprensa. É bom lembrar dessas coisas, porque está cheio de gente imaginando que a vida do jornalista é aquela maravilha. “Você viaja, vai nas melhores recepções, nas grandes festas, e ainda recebe? Que bela vida, hein? Não sei como reclama!”, devem estar falando.

Mas encarar um desses grandes eventos é uma prova de paciência para o jornalista. Para quem não vive habitualmente o mundo da política, como eu, não foi preciso nem de ambientação – transmitir a posse de um governador é tão complicado quanto acompanhar as partidas da seleção brasileira. Há muitos jornalistas, há muitos assuntos e há muita gente que está lá e não tem nada a ver com a história.

Some a tudo isso um calor típico de verão carioca – curitibano não se acostuma com facilidade ao calor -, e aí está a posse do governador, do presidente, o jogo da seleção ou a inauguração da ponte. Nessa confusão, sempre acontecem coisas que estão fora do seu planejamento, e que você tem que levar com ótimo humor. Se alguém estiver irritado, é melhor nem passar perto.

Por exemplo: transmitir um evento desses requer preparação, informação e desenvoltura, porque você está ao vivo. E pode ter certeza – pior que errar é tentar corrigir o erro, porque ninguém vai entender. Às vezes, pode dar um branco, e você esquece o nome daquele figurão que está bem na sua frente. Isso quando você não erra o nome de seu companheiro de trabalho – certa vez, o apresentador esqueceu o nome do repórter e acabou chamando-o de “grande bandeira da imprensa brasileira”.

Por isso, ouvinte ou telespectador, releve certas coisas que você ouve no calor de um grande momento. Mesmo que sejam baboseiras como as do comentarista da TV Gazeta, que (no momento em que o Dragão da Independência caiu do cavalo) disse que “os cavalos tinham um tipo de ferradura diferente para cada piso”. É muito difícil segurar a onda de três, quatro horas de transmissão sem cometer um erro sequer.

Mas não nego que é muito engraçado. O coitado do César Tralli (repórter da TV Globo) foi chamado cinco vezes no Jornal Hoje e não entrou em nenhuma delas. Minto: em um momento, ele apareceu – mas não tinha som. E para completar, quando ele conseguiu falar e aparecer, afirmou que o presidente Lula só sairia da Granja do Torto em vinte minutos, bem no momento em que o carro oficial saía da residência. Acontece.

Tanto acontece que eu imagino que o deputado estadual Natálio Stica deve estar feliz da vida comigo, já que eu o “promovi”. Explico: estava entrevistando-o e, no momento em que encerrei, fiz aquela saudação típica. “Muito obrigado ao deputado, que já deve estar seguindo para Brasília”. Nisso ele respondeu: “Não, eu não fui eleito para a Câmara. Ganhei a eleição para deputado estadual”. Pois é, não é fácil.

Cristian Toledo

e repórter de Esporte em O Estado.

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