Verde de maduro

O PT de Lula amadureceu, ganhando paradoxalmente uma cor esverdeada com sua aliança com o PL, um partido conservador, senão de direita. Uma coligação que exigiu muitas concessões, ainda não digeridas por grupos expressivos de ambos os partidos. A união do PT com o PCB e o PC do B, partidos comunistas, certamente foi mais fácil, senão pela similitude, pelo menos pela distância menor entre seus programas e idéias. Mas existe uma parcela ponderável de petistas que engole, mas não digere a coalizão com os liberais e seu candidato a vice. O mesmo acontece de parte de liberais, cujo candidato a vice de Lula, o empresário mineiro José Alencar, foi vaiado na convenção do PT que selou a coligação.

O vice-presidente do PL, deputado Bispo Rodrigues (RJ), da Igreja Universal do Reino de Deus, está defendendo que o senador José Alencar não partilhe os palanques com o candidato do PT, apesar da coligação. O bispo entende que é melhor o senador se ocupar de buscar apoios de empresários a Lula do que se submeter ao vexame de ser vaiado pelos petistas ortodoxos. O vice-presidente do PL não perdoa essa ala petista, chamando-a de “donos da vaia, mal-educados e preconceituosos”.

“São ditadores do PT”, acusa, para acrescentar: “Se tiverem poder, com certeza vão perseguir os que não pensam como eles”. Ele é contundente em suas críticas, dizendo que “ficou demonstrado que há entre os petistas os que querem um único partido no País”, uma referência ao sistema comunista. O bispo e deputado acrescenta que, se fosse possível, providenciaria a mudança desses radicais para Cuba, a fim de que eles pudessem sentir como é viver num governo ditatorial. “Eles iriam ver o que é bom com Fidel Castro”.

A verdade é que no Partido Liberal também resta um largo grupo de filiados e lideranças que continua contrário à coligação com o PT. Na opinião de Rodrigues, ainda assim é mais fácil fazer com que um liberal vote em um petista, mas nunca um petista num liberal. Em alguns Estados, apesar da coligação nacional e da verticalização, persistem problemas para a consolidação dessa união PT-PL Um deles é Alagoas. O Estado é pequeno, mas a liderança petista local é expressiva, pois está nas mãos da conhecida senadora Heloísa Helena, que renunciou ontem à candidatura ao governo do Estado, por negar-se a coligar com o PL, que apóia Fernando Collor. A direção nacional do PT pretendia intervir em Alagoas para fazer valer a coligação nacional. Mas em se tratando de um PT sob a liderança de Heloísa Helena, saia o que sair no papel, o desgaste é inevitável. Ela é uma das senadoras mais conhecidas no País e um quadro expressivo do PT.

Em Santa Catarina e em outros Estados a coligação será frágil. No Norte, existe até o caso de inimigos de morte se virem na contingência de partilhar o mesmo palanque. A aliança, por exemplo, vai reunir num mesmo palanque e nos mesmos programas de rádio e televisão políticos como o governador petista Jorge Viana com Cosmoty Pascoal e Aureliano Pascoal, irmão e primo do ex-deputado Hildebrando Pascoal, cassado por participação no crime organizado.

A fragilidade da aliança preocupa, mas o que mais incomoda o bispo deputado Rodrigues e grande parcela dos liberais é a governabilidade, em caso de vitória no pleito. Temem que os radicais voltem ao ataque e tentem dominar um eventual governo “light” de Lula.

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