Usuários de planos de saúde estão se transferindo para o SUS

São Paulo (AE) – Os aumentos dos planos de saúde podem ter mais reflexos do que as brigas judiciais para derrubar preços abusivos. A novela dos reajustes pode ter fim – talvez, não tão feliz – no Sistema Único de Saúde (SUS). Sem dinheiro, a tendência natural é que os consumidores procurem duas alternativas: partam para a rede pública ou se transfiram para planos mais baratos.

“Não tenho a menor dúvida de que aqueles que não tiverem poder aquisitivo para suportar o aumento vão acabar migrando para o SUS”, diagnostica Joana Azevedo da Silva, coordenadora da Atenção Básica da Secretaria de Saúde da Prefeitura de São Paulo. “Isso já ocorre há algum tempo e tem aumentado a demanda nas unidades básicas, principalmente de jovens que perdem o emprego e têm pais dependentes.” Ela estima que, em algumas regiões de classe média, os atendimentos nas UBSs aumentaram cerca de 20% nos últimos anos.

Os planos de saúde perderam, pelo menos, 5 milhões de usuários nos últimos três anos, sem contar o crescimento vegetativo da população, informa Arlindo de Almeida, presidente da Associação Brasileira de Medicina de Grupo (Abramge). Para ele, a culpa é do desemprego, da situação econômica do País e da lei que regulamenta os planos, de 1998. “Antes da regulamentação o crescimento anual de usuários era de 20%. Se mantivesse isso, hoje teríamos no mínimo 60 milhões de usuários.”

Levantamento da associação feito em junho de 2003 mostra que 35,1 milhões de pessoas eram clientes de planos de saúde. Associados da Abramge, como Amil e Golden Cross, tinham uma fatia de 16,2 milhões de beneficiários, mas vinham perdendo clientes – em 2002, eram 17,6 milhões.

Mas Almeida não prevê uma corrida ao SUS. “Vai haver uma mexida no mercado. Quem tem convênio mais caro vai procurar um mais barato.” Para ele, algumas operadoras podem reduzir a carência. “Pacientes de empresas que estão cobrando preços elevados acabam assediados por outros tipos de convênio.”

Mordomias – Quem tem plano e está acostumado a escolher médico e horário de consultas e a aguardar na confortável sala de espera assistindo à tevê, mas está sem dinheiro para arcar com as novas mensalidade, pode ir esquecendo as mordomias. Ao optar pelo SUS, a realidade é bem diferente: há filas e é preciso esperar bastante pela consulta, dependendo do local em que se mora.

Em compensação, poucos hospitais privados se igualam à excelência dos tratamentos de alta complexidade do SUS. O sistema tem também mais leitos que os particulares. As vagas estão em 663 prontos-socorros e hospitais públicos e privados dos 904 existentes no Estado. Na capital, são 80 unidades cobertas pelo SUS, de um total de 164.

“No quesito complexidade, o SUS é craque. Mas no de acesso é horroroso. Nos planos, é o contrário”, opina o presidente da Abramge. Uma das dificuldades que explicam essa situação é conseguir médicos para trabalharem na periferia, diz Joana da Silva, da Secretaria de Saúde. Mas ela garante que, a partir de amanhã (19), as coisas vão melhorar: 849 novos médicos começam a servir a rede.

Para quem nunca precisou do SUS, a dica é conhecer a Unidade Básica de Saúde (UBS) mais perto de casa. É lá que se marcam consultas para quaisquer problemas de saúde. O primeiro atendimento será feito por um clínico geral – em média, de dois a quatro dias depois de agendado, mas pode chegar a até 15 dias de espera.

Se o problema for urgente, ele vai encaminhar o paciente a um hospital. Se não for, decide se é preciso consultar um especialista. Neste caso, a UBS agenda o atendimento – cada unidade tem uma cota de consultas de especialidades. O tempo de espera dependerá da região, demanda, profissionais na área, gravidade do caso e dessa cota de especialistas. No caso de um gastroclínico, por exemplo, a espera pode variar de 15 a 40 dias.

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