Tive uma grande surpresa ao abrir os jornais de ontem. Apesar de muito alardeado e posto como principal programa do governo Lula de combate à miséria, o Fome Zero vai destinar menos dinheiro para as duas cidades piloto do projeto do que os programas do governo Fernando Henrique. As duas cidades do Piauí, Guaribas e Acauã, já são atendidas por seis programas sociais criados no governo de FHC. No total, as duas cidades recebem por mês cerca R$ 86.197,50 direto dos seis programas.

Isso significa 72% a mais do que os R$ 50 mil que serão injetados agora na economia dos municípios com a distribuição dos cartões do Fome Zero, que darão direito a R$ 50 mensais para quinhentas famílias de cada cidade. Passadas as eleições, talvez, esse fosse o momento de o novo governo deixar ranços do passado e agregar valores a tais programas de auxílio social e dando os méritos a quem merece de verdade. Não que eu tenha procuração para defender o ex-presidente FHC, mas as iniciativas devem prevalecer sempre, e quando necessária elogiadas. E isso falta ao governo Lula. Por exemplo, o dinheiro que entra nesses municípios por meio de programas como o Bolsa-Renda ou o Bolsa-Escola movimenta a economia local. Para se ter uma idéia, Guaribas e Acauã receberam no ano passado pelo Fundo de Participação dos Municípios R$ 1.222.029,15 cada uma, o que significa R$ 101.835,76 por mês para investimento e custeio da máquina pública em cada cidade. Guaribas, que tem 4.814 habitantes, recebe aproximadamente R$ 36.205 por mês dos programas do governo FHC. Em Acauã, que tem 5.147 moradores, entram todo mês aproximadamente R$ 49.992,50.

O que interessa nesses números expostos é que todos esses projetos, bem aplicados e com dinheiro chegando ao seu destino adequado, podemos sim dar o pontapé inicial para o combate ao principal mal desse mundo, a fome. Há que se louvar a persistência de Lula no combate a esse problema, mas também se faz necessária a união de esforços de governos anteriores e o atual. Não adianta um querer destruir o outro em razão de benefícios próprios ou partidários. A guerra pelo poder não leva a nada. O objetivo final sempre tem que ser o povo brasileiro, tão sofrido mas ao mesmo tempo esperançoso e voluntarioso.

Ratifico mais uma vez, o governo Lula está no caminho certo quanto ao combate à fome, porém vamos abrir os olhos para o que temos. Precisamos usar estruturas remanescentes, para num curto espaço de tempo podermos ampliar e tentar, não digo solucionar, mas minimizar a fome de milhões de brasileiros, que merecem ter uma vida digna e respeitosa.

O interessante é o País fazer uma corrente única, na qual um ajude o outro da maneira que puder. E povo tão solidário quanto o brasileiro não existe. É só governo pedir a ajuda da sociedade civil, que com certeza milhões de brasileiros terão, pelo menos, o que comer todos os dias.

Anselmo Meyer (anselmo@pron.com.br) é editor de Cidades em O Estado.

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