Uma verdade inconveniente

Não faz muito tempo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou aos quatro ventos que não moveria um músculo para a aprovação de uma nova Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF), agora batizada de Contribuição Social da Saúde (CSS). De repente, de uma hora para outra, o ministro das Relações Institucionais, José Múcio Monteiro, afirma que é de interesse do governo federal a criação do novo tributo, enquanto os líderes governistas trabalham para aprovar a emenda constitucional.

Interessante. Todos são favoráveis ao aumento de verbas para a Saúde. Por isso, a Emenda 29, que trata justamente disso, passou no Congresso Nacional. Mas parece que ninguém quer assumir o ônus de, em ano eleitoral, ser o responsável pela criação de um novo imposto.

O presidente da República não fala sobre o assunto e quando fala, diz ser contra. Mas pede, através dos assessores mais próximos, aos seus líderes na Câmara dos Deputados, que haja um ?esforço concentrado? para que a CSS seja aprovada. Não é à toa que José Múcio manifesta apoio à tese. Assim como o líder do PT na Câmara, deputado Maurício Rands (PE).

O ministro da Saúde, José Gomes Temporão, diz claramente que a CSS não é fundamental. Mas apóia o imposto. ?É uma decisão muito importante para a Saúde e eu estou contando com a sensibilidade pública e política dos deputados?, afirmou ele na manhã de ontem. Temporão dá como certa a votação na Câmara amanhã, e também a vitória no voto.

Dois ministros e o líder do PT se manifestam pró-CSS. Será que é possível imaginar que não exista uma orientação presidencial? Será que, se os três auxiliares diretos do presidente estiverem indo contra os desígnios de Lula, eles serão demitidos? Ou será que o Executivo não está ?jogando para a torcida? ao falar que é contra o tributo?

A política brasileira é cheia destes exemplos. Homens públicos que defendem claramente seus interesses nos bastidores, para depois deitar falação nos plenários e microfones. Enquanto isso, o povo segue pagando a conta agora, com o novo imposto.

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