Um farsante

Sem maquiagem, cara encovada, mais magro do que conseguiu ser por conta da dieta macrobiótica, o ex-deputado Tony Garcia, depois do tratamento ascético de noventa dias que recebeu da polícia, segundo a criteriosa prescrição cautelar do Ministério Público e da Justiça federais, só não perdeu a proverbial mania de grandeza. Agora agravada por aparente patologia que o transforma em vítima da perseguição, ao invés da merecida pecha de gestor improbo do dinheiro a ele confiado por incautos.

Solto da prisão após o pagamento de fiança no valor de R$ 5 milhões (sua pendura no consórcio chega a R$ 40 milhões), Garcia deve responder em liberdade as acusações constantes de seu recheado prontuário, mas não dispensou a oportunidade de transferir para outros – como um prestidigitador mambembe – a origem e desenvolvimento da péssima fama associada à sua pessoa há tantos anos.

O Consórcio Garibaldi tem contra si mais de mil processos, e só esta informação é suficiente para demonstrar a dimensão de conduta reprovável do réu Tony Garcia no mundo dos negócios. Procurando dissimular uma situação clamorosa e ofensiva aos padrões de civilidade e justiça de qualquer sociedade, Garcia assume a camaleônica aparência de "perseguido e preso político", o primeiro depois da revolução de 1964.

Declaração risível se não fosse trágica e atentatória à seriedade do trabalho investigativo realizado pelo Ministério Público e o pronunciamento da Justiça, ordenando a prisão do acusado. Por mais que se esforce, não conseguirá o ex-deputado iludir a opinião pública posando de justiceiro e defensor dos humildes. Uma espécie de super-herói de proveta, afinal, derribado por sua doentia vaidade e sede de riqueza.

Casos semelhantes povoam a cena contemporânea, ao passo que elevam a confiança da cidadania nas ações desencadeadas pelo Judiciário e Ministério Público no processo de coibir a fraude e a corrupção, doa a quem doer. O grande geógrafo Milton Santos, um humanista de escol, em seu derradeiro livro, lembrou que muitas pessoas, infelizmente, são vítimas de "emagrecimento moral". Parece ser o caso flagrante do ex-deputado Tony Garcia.

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