Triste constatação

Os brasileiros estão pagando a sua dívida. Já pagaram neste ano R$ 500 bilhões para o governo em tributos federais, estaduais e municipais. A estatística é do IBPT (Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário). Seria muito complicado tentar associar essa quitação honrosa com aquele negócio de o Brasil pagar antecipadamente o Fundo Monetário Internacional e sair cambaleando pelas próprias pernas. Melhor ficar nos 500 bilhões de reais, que já são dinheiro à beça. Essa contribuição tributária foi um recorde. Ela foi constatada às 15h40 do último dia 10. No ano passado, chegamos a pagar R$ 500 bilhões, mas a espantosa quantia e a extraordinária marca só foi alcançada no dia 6 de setembro. Em 2006 batemos o recorde do ano anterior por 27 dias.

O presidente do IBPT, Gilberto Luiz do Amaral, informa que a arrecadação tributária teve um aumento nominal de 13%, e real, já descontada a inflação, de 6,22% entre 2005 e 2006. Essa dinheirama seria suficiente para alimentar toda a população brasileira durante quatorze anos. Daria para construir 18,5 milhões de casas populares. Falam que o nosso déficit habitacional é de 10 milhões de moradias. Sobraria ainda quase outro tanto para servir como casas de veraneio. E candidatos andaram prometendo também moradias a bangu, o que não aconteceu, mas rendeu muitos votos.

Esses R$ 500 bilhões são uma espécie de pagamento a fundo perdido. O povo deve ao governo sua contribuição na forma de impostos. Trata-se de um contrato em que o credor manda e não pede. É dívida compulsória e incomensurável. Pode ser tanto ou quanto, dependendo da vontade e da ganância do credor. Mas há retorno. Com a maior parte do dinheiro, o governo (nos seus três níveis) providencia para que tenhamos estradas, escolas, saúde pública, segurança, filas da previdência e outras mordomias que o povo bem conhece. Se não pagarmos, o que é impossível, pois sonegar dá cadeia, a gente irá viver por conta própria, sem governo, por quatorze anos. Mas isso é anarquia.

Existem ainda outras dívidas indiretas. Devemos também o dinheiro que o governo toma emprestado lá fora, de governos, entidades financeiras multinacionais, bancos, fundos, etc. E aqui dentro do Brasil, de bancos, com a venda de títulos públicos, de fundos e o que mais possa ser alvo da mão ligeira do governo. Esse dinheiro ele rola com a barriga. A nossa barriga, pois quem lhe dá o numerário, no final das contas, é o contribuinte. E, para piorar as coisas, quanto mais dinheiro o governo pega emprestado, mais elevados ficam os juros, por causa de uma lei chamada da oferta e da procura. Tem uma outra saída, utilizada às vezes com sofreguidão: fabricar dinheiro na Casa da Moeda. Ali, quanto mais dinheiro o governo produz, mais aumenta a inflação. E menos vale o numerário que temos no bolso, no banco, e o nosso patrimônio.

Diante dos números do IBPT, ficamos a pensar o impensável. Pra que governo? Não estaria ele sendo demasiado pesado e extraordinariamente incompetente? Será que não estamos pagando na marra uma dinheirama que poderia nos sustentar por muitos anos, mas que sustenta uma imensa, emperrada e cada dia mais corrupta e desmoralizada burocracia?

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