Tricas e futricas

O presidente Lula, em enérgico discurso que pronunciou na última reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, disse que tricas e futricas não brecarão ou frearão o desenvolvimento que o Brasil precisa e deve ter.

Textualmente: “Não haverá intriga, futrica ou eleição que possa brecar ou frear o desenvolvimento que esse País precisa e que deve ter”.

O auditório, ou seja, o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, é constituído na maioria de empresários e eles entenderam bem o recado.

Pressionado para levar ao Congresso o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, e o presidente do Banco do Brasil, Cássio Casseb, o governo quer fazer crer que as acusações que pesam sobre as duas autoridades não passam de tricas e futricas pré-eleitorais. Aliás, em campanhas eleitorais, tricas e futricas fazem parte essencial do enredo, neste e em todos os pleitos por que já passamos.

No caso dos presidentes do BC e do BB, entretanto, há tramas mais complexas. O PT dito autêntico nunca engoliu Meirelles no elevado cargo de presidente do Banco Central, mesmo porque ele representa o grupo neoliberal que comandava o País no governo FHC e era alvo de severos ataques das oposições, especialmente dos petistas. Os empresários que ouviram a defesa indireta de Meirelles, por outro lado, em geral eram a favor do ex-auxiliar do governo passado, pois representa o grupo considerado capitalista, conservador, aliado ao FMI e obediente aos seus mandamentos.

Paradoxalmente, as tricas e futricas contra Meirelles partem da atual oposição, aquela que era situacionismo no governo anterior e deveria estar apoiando a atual administração do Banco Central, salvo no que se refere à queda dos juros, que quer mais célere. Meirelles é acusado de irregularidades em contas suas no exterior e de não havê-las declarado ao Imposto de Renda. Tem uma defesa consistente, pois quando manteve tais contas vivia nos Estados Unidos e quando voltou ao Brasil e aqui fez sua declaração do Imposto de Renda, tais depósitos não mais existiam e, por isso, não deveriam ou poderiam ser declarados. Declaram-se as posições de 31 de dezembro. Pior é a situação do presidente do Banco do Brasil, Cássio Casseb, com a compra de ingressos para um espetáculo de uma dupla sertaneja, distribuindo-os a funcionários. O dinheiro foi destinado à construção da sede do PT em São Paulo. Aí, há irregularidade e grossa e não se há de falar em tricas e futricas.

A técnica de defesa é inteligente, se bem que pode não ser consistente. Aproveita-se o surto (ou sopro) de desenvolvimento econômico do País para desviar as atenções dos escândalos apontados pela oposição. E atribuem-se os ataques ao governo a meros interesses eleitorais. Usam-se, como escudo, sucessos econômicos, para desviar as atenções da opinião pública, numa escusa semelhante àquela usada no passado por Adhemar de Barros e, de certa forma, ainda usada por Paulo Maluf. Incute na opinião pública o “rouba, mas faz”. E o desenvolvimento econômico seria a desculpa para todas as irregularidades que ganham a dimensão menor de tricas e futricas.

O perigo é que este surto de desenvolvimento não tenha vindo para ficar. Já falta matéria-prima, os juros continuam altos e há à vista um terrível choque do petróleo. Se falhar, fica o governo sem defesa e terá de defender-se a sério, como exigia, quando era oposição.

Voltar ao topo