Três a um

Querem todos os candidatos ao cargo do presidente FHC – e o próprio, já em contagem regressiva – que os brasileiros deponham as armas do pessimismo e empunhem a bandeira tecida com as cores da seleção brasileira, em sua campanha realizada com sucesso na terra do sol nascente. Apesar de ser este um desejo louvável, os fatos conspiram contra as idéias e projetos. E enquanto a cotação do dólar se aproxima do três a um apesar das sucessivas desovas de dinheiro bom do Banco Central, uma a uma sobem de preço as tarifas de luz, água, telefone, gasolina, transportes, pedágios, gás… Convenhamos: em meio a tudo isso é quase impossível manter o otimismo.

“Houve uma vitória que foi construída pela reafirmação de nossa capacidade” – disse o presidente Fernando Henrique Cardoso a empresários reunidos recentemente, num desses arroubos que se sucederam à vitória quase que isolada da equipe de Scolari. Assim se apossando da vitória alheia e assim dizendo, aos empreendedores fez uma pergunta: “Será exagero comparar isso com a economia?” Sem esperar por eventuais respostas, ele mesmo concluiu por achar que não há exagero na comparação pois, segundo entende, o que está faltando é fé: “É preciso que as pessoas acreditem mais e não fiquem se lamuriando. Quem pode fazer algo e fica se lamuriando, só atrapalha”.

Nenhum empresário disse, mas seguramente pensou com seus botões que os atrapalhos à economia estão exatamente nos lamentos (e mais que isso, nos desacertos e gastanças) do próprio governo. Nos últimos anos este fez subir tributos e contribuições até onde pôde, roubando à iniciativa empreendedora do brasileiro a capacidade de produzir, progredir, competir e também de consumir. A vertiginosa queda superior a 13% nas vendas de automóveis durante o primeiro semestre do ano é uma prova de que não são lamentos apenas. Existem fatos.

É bem verdade que, como numa orquestra se espera do maestro, compete aos líderes de verdade dar o tom a seus liderados. E era quase de se imaginar que a conquista do pentacampeonato viesse a inspirar a tentativa de construção de uma nova era por parte dos que se ocupam da coisa pública. A garra e a determinação, assim como o espírito de equipe e a vontade de vencer dos integrantes de nossa seleção, entretanto, tem mais a ver com o povo do que com o governo. Este, pelas suas falhas e inapetência, em vez de acrescentar pontos sempre preciosos na auto-estima dos brasileiros, tem contribuído para aquilo que o próprio candidato Lula da Silva tenta, sem sucesso, exorcizar: “Da primeira à última página só se fala em crise econômica”. Isso, é verdade, cansa. E se ainda não fomos transformados numa Argentina, é graças exatamente à garra e à determinação dos brasileiros anônimos na luta do dia-a-dia pela sobrevivência, onde a especulação financeira não tem espaço.

A tentativa de uma virada, ao sopro dos ventos da Copa, chega mesmo ao paradoxal puxão de orelha que Lula passou a dar na equipe econômica do governo, cuja linguagem parece não estar muito afinada com a do presidente FHC. O presidente do Banco Central, Armínio Fraga, andou dizendo por aí que serão necessários ainda uns trinta meses (quase três anos!) para que o Brasil passe a ser considerado um país de investimentos seguros pelo mercado internacional. Quer dizer: enquanto FHC tenta vender otimismo, Fraga, além de dólares, vende o quê?

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