O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) curvou-se à maioria do partido e não assinou o requerimento de criação da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Correios, mas, antes disso, mandou uma carta pessoal ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

continua após a publicidade

"Passo por um dos maiores dilemas de minha vida parlamentar", escreveu, na noite de ontem (24), ao afirmar que, com essa decisão, a legenda distancia-se da vontade popular. Mesmo considerando que seria "a melhor maneira de ajudar" o governo e a sigla, Suplicy seguiu a orientação partidária e, com outros senadores petistas, abandonou a idéia de apoiar a abertura das investigações sobre denúncias de corrupção nos Correios.

Ele deixou claro a Lula que a assinatura ao requerimento seria também uma forma de apoiar o Poder Executivo.

"Que, sinceramente, desejo ver reeleito", emendou. Suplicy enfatizou a disciplina com que sempre conduziu a vida partidária, ressaltando que nunca contrariou uma decisão da agremiação, nem da bancada, nem da direção nacional. "Todavia, percebo que jamais a direção esteve tão distante da vontade popular e de tantas pessoas que nos deram a maior força em toda a nossa trajetória desde 1980", afirmou na carta. Sempre preocupado com a ética, o senador do PT de São Paulo disse que a opinião majoritária que ouviu durante todas as palestras que fez nos últimos dias, era de que ele deveria apoiar a CPI.

continua após a publicidade

"Nas ruas, nos aeroportos, nos restaurantes, por onde ando, as pessoas vêm assim recomendar. De ontem para hoje, recebi 63 e-mails com mensagens qualificadas recomendando que eu deveria assinar e apenas quatro para não assinar. Enquete na minha homepage do Senado até agora indica 75,76% para assinar, 16,16% para não assinar e 8,08% não sabem", continuou na carta ao presidente.

Suplicy ainda anexou a íntegra da carta em que Sandra Fernandes de Oliveira, que denunciou o ex-presidente Fernando Collor de Mello na Operação Uruguai, confessa a frustração com a gestão do PT e com a ação dos petistas para abafar a CPI dos Correios. "Ela comete exageros – tem razões pessoais para estar desapontada com a vida política brasileira -, mas é importante que possa conhecer a profunda mágoa que hoje lhe atinge", prosseguiu o senador do PT, que hoje conversou com Sandra por telefone.

continua após a publicidade

Suplicy mandou o e-mail às 21h14 e, 26 minutos depois, recebeu o comunicado do chefe de Gabinete da Presidência da República, Gilberto Carvalho, dizendo que enviara, imediatamente a mensagem para a Coréia do Sul. Hoje, o senador deduziu que a carta teria motivado o telefonema de Lula hoje para o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), durante a reunião da bancada do partido na Casa.

A conversa durou cerca de 15 minutos e aconteceu em seguida à decisão da bancada de não assinar o pedido. O presidente mandou um recado para Suplicy, dizendo que a administração federal será rigorosa nas apurações das denúncias de corrupção. Para manter o clima de cordialidade e agradar ao senador, avisou: "Diga para ele que vou acertar um jogo de futebol entre as seleções do Brasil e das Coréias." A idéia do jogo tinha sido feita por Suplicy, a exemplo do que feito no Haiti.