Subsídios agrícolas nas nações ricas causam degradação ambiental

Um dos efeitos nocivos dos US$ 300 bilhões em subsídios que os governos das nações ricas dão anualmente à agricultura – além de estimular safras excessivas e deprimir preços, para prejuízo dos produtores dos países em desenvolvimento – é a degradação ambiental causada pelo uso excessivo de terra, de fertilizantes e de recursos hídricos.

O presidente da Nature Conservancy, Steve McCormick, estudou economia agrícola antes de formar-se em direito e sabe disso melhor do que ninguém. Mas, no início deste ano, quando os congressistas americanos decidiram que era necessário aprovar uma nova lei agrícola, aumentando os subsídios à produção de alimentos, McCormick e Nature Conservancy escolheram o caminho oposto ao das organizações que se levantaram para denunciar a iniciativa.

Diante da inevitabilidade da aprovação de uma nova ?Farm Bill?, ele trabalharam para assegurar que a nova lei destinasse o maior volume de dinheiro possível para projetos de preservação ambiental em áreas ameaçadas pela agricultura. Dos US$ 75 bilhões em pagamentos adicionais, em dez anos, que autorizou aos fazendeiros, o Congresso reservou mais de US$ 200 milhões essa finalidade.

O episódio é típico da ação de McCormick, que iniciou hoje, no Rio, sua primeira viagem ao Brasil desde que assumiu a presidência da Nature Conservancy, no ano passado, e chega amanhã a São Paulo para participar de um jantar comemorativo dos 50 anos da criação da organização, junto com industriais, banqueiros e líderes do movimento ambiental brasileiro.

O publicitário Washington Olivetto, o ex-deputado Fábio Feldman e o banqueiro Tomas Zinner estão entre os membros do conselho de diretores da Nature Conservancy do Brasil. McCormick irá também a Brasília para contatos no governo, com organizações não-governamentais e representações de organismos inetrnacionais.

A maior e mais tradicional organização do mundo dedicada à preservação ambiental, a Nature Conservancy, administra bilhões de dólares em fundos doados por empresas, fundações e filantropistas e em contribuições de seus mais de um milhão de membros. ?O nosso propósito é a conservação de lugares que representam a diversidade natural do nosso mundo?, disse McCormick à AE, na sede da organização, em Ballston, um subúrbio de Washington. ?Nada tenho contra as organizações ambientais envolvidas em políticas públicas e acho que elas cumprem um papel importante, mas o nosso objetivo é bastante específico e temos um estilo próprio de trabalho, baseado na colaboração, na não-confrontação e no respeito?, explicou ele.

Graças a esse estilo e aos bolsos fundos das pessoas e instituições que a apóiam, a Nature Conservancy já comprou, para conservar, mais de 5,8 milhões de hectares nos EUA e ajuda a administrar, com as comunidades e governos locais, outros 33,8 milhões de hectares de parques e propriedades particulares escolhidas para conservação em dezenas de países. Como presidente da Nature Conservancy na Califórnia, que ocupou antes de assumir a liderança nacional da organização, McCormick levantou mais de US$ 300 milhões em fundos para vários projetos.

No Brasil, a organização está envolvida em vários projetos em cinco das regiões mais representativas da biodiversidade do país: a Amazônia, o Cerrado, a Mata Atlântica, a Caatinga e o Pantanal. Na quinta-feira, McCormick visita o Parque Nacional das Emas, no Cerrado, onde a Nature Conservancy e parceiros locais desenvolvem vários projetos de estudos. Um destes visa a assistir o Ibama a decidir quais as regiões do Cerrado que devem ser preservadas, além do Parques das Emas e do Parque Nacional Grande Sertão Veredas. ?Nossa atividade de conservação não se limitam à preservação de lugares que consideramos biologicamente representativos e importantes?, explicou McCormick.

Por seu um país de ?mega-diversidade?, o Brasil ?é um dos países mais importantes para a Nature Conservancy?, disse ele. Mas McCormick esclarece que a organização não tem uma agenda ambiental para o País, até porque trabalha, em todos os seus projetos, com as comunidades locais.

?Atuamos em parceria com as comunidades locais também para transmitir-lhes conhecimentos e experiências que lhes permitam viver de forma confortável e sustentável dos recursos à sua volta; é importante identificar e preservar os lugares mais representativos em sua biodiversidade até para que se possa abrir as terras menos importantes do ponto de vista da conservação para a exploração econômica mais extensiva?, disse McCormick.

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