Stédile: Fome Zero vai fracassar se modelo econômico não mudar

As críticas ao programa Fome Zero que freqüentaram as páginas dos jornais nos últimos dias chegaram hoje ao salão principal do Palácio do Planalto, no lançamento da maior aposta do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na área social. O líder do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) João Pedro Stédile engrossou o coro de descontentes, como o bispo de Duque de Caxias (RJ), d. Mauro Morelli, e a coordenadora da Pastoral da Criança, Zilda Arns, e disse que o programa não acabará com a fome no País, se o modelo econômico não mudar.

O Fome Zero, na avaliação de Stédile, não pode ser o “lado bombeiro” do governo. “Distribuir cesta básica é algo emergencial e estamos de acordo porque muitos de nossos acampados precisam de alimento. Mas isso é uma parte pequena. O povo não quer cesta básica, quer trabalho”, afirmou. “O programa tem de ter inserido a idéia de mudança da política econômica para distribuir renda, terra, fazer a reforma agrária e revalorizar a agricultura familiar.”

Stédile pediu aos empresários que estão “bajulando” Lula que não contribuam apenas com cestas básicas para o programa. “Eles devem oferecer trabalho e emprego. Os empresários, que se dizem tão progressistas, não podem simplesmente dar esmolas”, disse.

Confirmados no Conselho de Segurança Alimentar (Consea), Zilda e d. Mauro mantiveram o tom crítico a algumas idéias do programa. Zilda disse que não o vê como assistencialista, mas reconhece que não será uma solução para o problema dos mais carentes. “Temos de ter em conta que isso não adianta nada para reduzir a miséria. O que reduz a miséria é dar educação, alfabetização, moradia e saneamento. É preciso que se dê auto-sustentabilidade a essas famílias”, observou.

D. Mauro insistiu na tese de que o projeto do governo tem de contar cada vez mais com a participação da sociedade. “Se for só um programa meu, seu, do Graziano (José Graziano, ministro de Segurança Alimentar) e do Lula, terá um futuro incerto. É preciso colocar o projeto na mão da sociedade”, disse, ressaltando que as críticas são construtivas. “Mesmo porque o conselho é acima de tudo um organismo crítico.”

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