Sonho ou realidade

É difícil acreditar que o PT, Lula e seus aliados tenham mentido, enganando o povo durante a campanha eleitoral. E antes disso, por mais de duas décadas em que o Partido dos Trabalhadores construiu expectativas, espalhou promessas, apontou diretrizes, plantou esperanças e tudo acabou em nada. Ou, no contrário das expectativas semeadas.

Parece mais possível que Lula e seus companheiros, ao conquistarem o poder com 53 milhões de votos, assumiram cheios de entusiasmo para, logo, sofrerem um choque de realidade.

O Brasil era tudo aquilo que diziam, ou seja, um país injusto, com muita miséria e que exigia medidas heróicas para entrar nos trilhos. Mas escapava aos idealistas o conhecimento da realidade, ou seja, de que arrumar a casa é tarefa demasiado difícil e não basta boa vontade ou “vontade política”. Nem coragem e projetos que não passem de quimeras, sonhos que se apagam quando colocados no papel ou confrontados com a realidade. Sonharam durante mais de duas décadas e, de repente, acordaram como governo e descobriram que tudo se transformara em um pesadelo.

O programa de governo que há um ano conquistou 53 milhões de brasileiros na base de “agora é Lula”, desistindo de governos com os mesmos homens e as mesmas fórmulas, prometia um crescimento econômico de 7% ao ano. No mínimo, 4%. Índices de crescimento necessários e ainda insuficientes para começar a mudar este Brasil. Atualmente, a projeção de crescimento econômico não chega a 1% do Produto Interno Bruto (PIB). E de pouco adianta apresentar escusas, como a situação mundial adversa, pois isso era previsível e contingência negativa que seria enfrentada mesmo por outro governo, se Lula tivesse perdido. Um bom governo prevê, para prover. Não se compra com sonhos, principalmente quando impossíveis.

Sob a coordenação do médico Antônio Palocci Filho, ministro da Fazenda, o programa de Luiz Inácio Lula da Silva, em suas 88 páginas, propunha até redução da alíquota da CPMF a um valor simbólico, de forma a permitir ao governo aquilatar se estaria ou não ocorrendo sonegação fiscal. Sobre a contribuição em si, o PT a acusava de exploração, imposto injusto que se insidia em cascata, sacrificando inclusive e principalmente as massas trabalhadoras. No governo, mudou tudo. Não só quer a CPMF do tamanho que está, sem nenhuma redução, como insiste em não dividir o seu produto com ninguém. Tudo para o governo federal.

Desnecessário ir enumerando as contradições, as promessas não cumpridas e até as que foram cumpridas às avessas, nada dando e mais tirando da sofrida sociedade que acreditou no sonho petista. Talvez compense, entretanto, lembrar o sonho do emprego, tornado pesadelo. Prometia-se criar milhões de empregos e criaram-se milhões de desempregados, uma situação desesperadora que se tenta remendar com programas como frentes de trabalho e primeiro emprego, insuficientes até como analgésicos, tão grave é a situação.

No campo financeiro, notadamente no que se refere à dívida pública e à formação das reservas para rolá-la, o atual governo fez o que condenava, ou seja, o mesmo que fazia o seu antecessor. Só que em dose mais cavalar. No campo social, que reclamava forte ação, até o momento nada mais fez do que muita confusão. Seria um estelionato eleitoral? Cremos que não. O que parece ter acontecido foi um choque de realidade, o governo Lula assumindo, inexperiente, e descobrindo desgostoso que muito do que o governo anterior dizia era verdade e que, para fazer o que havia prometido, só com milagres.

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