Solidariedade retórica

Mais uma vez a reunião de cúpula dos países formadores do G8 (as sete maiores economias mais a Rússia) foi encerrada com promessas de solidariedade e ajuda financeira aos países da periferia do desenvolvimento econômico, de modo especial os africanos.

No encontro encerrado na última sexta-feira, ocorreu uma gafe monumental, somente corrigida após a reclamação do presidente Lula, que ao chegar ao balneário alemão de Heilingedamm foi informado pelos repórteres que o documento final da cúpula já havia sido divulgado.

O presidente constatou, bastante contrariado, que o documento dava como favas contadas vários itens sobre os quais o G5 (África do Sul, Brasil, China, Índia e México) não havia definido sua posição, pois sequer tivera a oportunidade de analisá-los em conjunto com os governantes das nações ricas. A ponderação de Lula foi considerada e a cúpula viu-se constrangida a redigir uma segunda declaração.

Para os observadores, ficou patente a impressão de que pouca coisa mudou na rotina dos encontros dos presidentes e primeiros-ministros dos países industrializados. Também dessa vez foi renovada a magnânima intenção de ajudar países africanos a combater o flagelo da Aids, da mesma forma como ocorrera em 2005.

Dessa vez, os países industrializados prometeram enviar à África, até 2010, US$ 60 bilhões para combater a Aids e outras enfermidades que dizimam a população do continente esquecido.

A crueldade lastimável desses compromissos de solidariedade social é que os mesmos raramente são cumpridos ou, quando isso acontece, na melhor das hipóteses, a ajuda prometida só chega de forma parcial e fragmentada. Muitos países africanos continuam aguardando a ajuda financeira que as economias mais ricas do planeta haviam prometido em 2005.

Muitos são levados a admitir, diante da realidade, que determinadas proposições assumidas pelos países ricos têm mero significado retórico.

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