Sexta, 13

Amanhã é sexta-feira, 13. A coincidência não teria importância alguma não fosse o número, geralmente ligado ao azar, ter sido transformado no número da sorte grande. Este é o número com o qual Luiz Inácio Lula da Silva, o metalúrgico, chegou à Presidência da República. Para esse dia cabalístico estão sendo cogitadas muitas coisas. Aguarda-se, por exemplo, para essa sexta, o anúncio ? afinal! ? do ministério do novo governo, incluindo o futuro presidente do Banco Central, timoneiro de novos caminhos para o real inflacionado.

A intuição pode até discordar da expectativa anunciada. Afinal, Lula, que nesta sexta, 13, vive seu último dia de cidadão sem diploma (sua diplomação como presidente eleito será no sábado), pode estar pensando em nomear seus principais assessores apenas depois do pronunciamento formal da Justiça Eleitoral, o que será feito sem problema algum. Ganharia assim mais alguns dias para resolver ingentes pendências que se formaram à direita e à esquerda, devido às indicações de poucos e às pretensões de muitos preteridos. Fora os quase 53 milhões de eleitores que digitaram o número 13 apenas no segundo turno, existem ainda aqueles milhões que, imbuídos de um induvidoso senso de patriotismo, aderiram ao time da esperança e estão torcendo para que o novo governo dê certo porque dependem dele.

Por isso depois dessa sexta, 13, o jogo começa a ficar sério: já não vale mais apenas falar de projetos, intenções e transição pacífica e respeitosa; é preciso fazê-la, materializando os anseios de esperança. O “paradigma das esquerdas” em “processo de unidade” em toda a América Latina, Lula tem pela frente o comando dos teóricos de sempre, sim, mas de milhões de práticos cidadãos da planície ? estes que não raciocinam sobre ideologia nem pretendem adiamento do sonho de chegar ao paraíso tantas vezes prometido.

Não havia política industrial? Agora é preciso tê-la e com consistência. Dez milhões de empregos não é coisa para fazer surgir da noite para o dia; é preciso arregaçar as mangas o quanto antes. Há o problema da escola, da estrada, da segurança que tira o sono de milhões. E não bastasse isso, já neste Natal há quem imagine três refeições por dia, conforme o prometido. Há quem sonhe a casa própria, a terra prometida, a reforma agrária e todas as outras reformas ? da tributária à trabalhista, da previdenciária à política, fora a do Judiciário, da CLT e assim por diante.

Mas antes de tudo isso é preciso pôr freios à inflação que passou a surpreender todos os que vão aos supermercados, à escola, à farmácia ou simplesmente pegam a condução para ir ao trabalho ou procurar emprego. E o dólar nas alturas, a indicar falta de credibilidade ou dúvidas na esperança, sinaliza com dias ainda mais difíceis.

É por isso que nesta sexta-feira, 13, véspera da diplomação, é preciso, antes de mais nada, exorcizar os maus agouros capazes de roubar-nos a esperança que venceu o medo. Lula precisa começar a provar que a esperança é possível. A começar pelo seu ministério, já quase um parto da montanha.

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