Seja bem honesto consigo mesmo. Que utilidade teria uma arma de fogo para você, cidadão comum, pacato, bem intencionado, disposto a levar uma vida dentro dos princípios de respeito, preocupando-se apenas com o conforto e bem viver de sua família? Se você é pelo princípio de que as boas coisas começam pelo bom comportamento e não tem medo de ser chamado de covarde, nunca esteve envolvido com ações de violência, por certo achará que uma arma é acessório totalmente dispensável.

Alguns acham que ter uma arma em casa ou levá-la no cinto é uma garantia de segurança. Todos os bons conceitos dizem o contrário. Mesmo assim há uma forte resistência em alguns segmentos da sociedade, que insiste em defender que o porte de arma de fogo é fundamental para se sobreviver onde a violência passou a predominar.

Uma coisa puxa a outra. Se não houver arma de fogo, a incidência de crimes que dependem do seu uso, com certeza será riscada das estatísticas. É lógico que o crime continuará existindo, que outros meios serão utilizados para fazer prevalecer a lei do mais forte. Se não fosse assim, Caim não teria matado Abel e de lá para cá não teríamos tantas mortes prematuras provocadas pela ira do ser humano.

Entretanto estamos dando instrumento para o crime. Senão, para que serve uma arma de fogo? Para matar, para intimidar, para fazer valer a lei do mais forte?

Redondo engano é pensar que um instrumento como esse nos ofereça segurança. E assim é totalmente dispensável. Isso não passa de mais uma criação do homem para sua própria destruição.

Agora pensemos: não estamos em guerra, a caça é proibida, o uso de arma pelos cidadãos comuns depende de uma autorização prévia, ou seja o porte de arma. No entanto os nossos noticiários estão repletos de crimes onde a arma é o centro de toda a ação e em torno dela giram a grande e absoluta maioria dos crimes que se cometem.

Digo isso, não por que mais um jornalista foi morto na semana passada em condições totalmente desfavoráveis. Foi o covarde tiro de um imbecil, que de porte de uma arma de fogo, fez prevalecer o seu instinto animalesco para reprimir a ação profissional de alguém que tinha a missão de levar a verdade ao seu público. Digo isso por que tenho dificuldade de entender o motivo que leva as pessoas a destruírem vidas, a matar em nome de não sei o que? O que pode justificar a eliminação de uma pessoa em favor de uma causa, de um bem ou de alguma coisa material?

É uma atitude tão pueril, com a passagem deles pela vida. Talvez estejam querendo provar que para eles a vida humana não vale nada. Para eles talvez, mas para os do bem, os da verdade, os de Deus, sem dúvida, a vida é uma missão. Porém, tem gente que não leva em conta que a vida é importante. Acham que uma arma é mais importante do que uma amizade, do que uma família, de um momento de paz.

Penso que todo homem que acha que uma arma é indispensável para a sua segurança, para sua vida, não deveria cometer a vida, gerar a vida. Melhor seria que ele conservasse apenas o seu prazer pela arma, o amor pela arma e que tivesse nela a sua companheira nas horas de remorso, na quietude da sua individualidade e egoísmo.

Aí sim eu concordaria com o poeta Vinícius de Moraes, quando perguntava: “se foi pra desfazer, por que é que fez?”. Ao contrário seria hipócrita ao criticar Herodes, Hitller ou Bush e tantos outros que passaram ou ainda passarão.

Osni Gomes (osni@pron.com.br) é jornalista, editor em O Estado e escreve aos domingos neste espaço.

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