Região de Curitiba

Rebelião em presídio de Piraquara deixa dois mortos; outros 26 fugiram

Foto: Gerson Klaina

Ao menos 26 detentos fugiram do Complexo Penitenciário de Piraquara, na região metropolitana de Curitiba, neste domingo (15), segundo informações da Segurança Pública e Administração Penitenciária do Paraná (Sesp-PR). Além disso, outros dois presos foram mortos durante a tentativa de fuga. Por volta das 11h, uma viatura do Instituto Médico-Legal (IML) deixou o complexo, após recolher os corpos.

Dezenas de unidades e o helicóptero da Polícia Militar estão na região com objetivo de localizar presos. A fuga aconteceu por volta das 5h30, na Penitenciária Estadual de Piraquara (PEP 1), depois que pessoas de fora explodiram o muro do complexo.

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Para tirar o foco, os presos começaram um princípio de motim em um dos prédios, a Casa de Custódia de Piraquara (CCP) e, enquanto isso, tiros foram disparados do lado de fora contra algumas das guaritas de segurança do presídio. Segundo a Sesp-PR, pelo menos 15 homens fortemente armados deram cobertura para a fuga.

Para o secretário da segurança, Wagner Mesquita, o que aconteceu foi pensado há dias. “Foi uma ação preparada. Apesar disso, os policiais conseguiram evitar uma fuga em massa. A Polícia Civil agora vai investigar os envolvidos neste plano de fuga e as forças de segurança do Estado estão empenhadas para recapturar os detentos que conseguiram fugir”, disse.

No reforço da segurança no presídio foram acionadas equipes da Polícia Militar, do Setor de Operações Especiais (SOE), do Departamento Penitenciário (Depen), e o Centro de Operações Policiais Especiais (Cope), da Polícia Civil. A fuga de mais presos foi evitada após essas forças de segurança conseguirem acessar o perímetro interno da PEP 1.

Os dois presos mortos foram encontrados durante a varredura na área externa do presídio. Com eles, havia uma metralhadora Uzi 9 milímetros, além de uma bolsa com aproximadamente 300 cartuchos calibre 5,56 e um colete balístico. Os policiais encontraram ainda uma barraca, com alimentos e bebidas, que teria sido usada pelo grupo que deu cobertura para a fuga.

Foto: Gerson Klaina
Foto: Gerson Klaina

Famílias esperam respostas

Desde as primeiras horas da manhã, muita gente se aglomerou nas entradas da penitenciária. O domingo seria dia de visitas das crianças, mas conforme apurou a Tribuna, com os agentes, as visitas foram suspensas.

Mesmo estando do lado de fora, os familiares estavam perdidos e alguns ainda esperavam por respostas. “Estamos sem saber o que está acontecendo. Mas não vamos sair daqui”, disse a esposa de um detento. Alguns dos parentes conseguem conversar com presos que estão do lado de dentro do complexo penitenciário. Eles contaram que os presos disseram nunca terem ouvido tantos tiros na prisão.

Confronto

Local onde policiais militares teriam entrado em confronto com marginais. Foto: Vagner Ribeiro/Colaboração
Local onde policiais militares teriam entrado em confronto com marginais. Foto: Vagner Ribeiro/Colaboração.

Durante a fuga, quatro homens suspeitos de dar cobertura para a fuga de presos fizeram uma família refém num haras na cidade de Quatro Barras (RMC). Depois de aproximadamente cinco horas de negociações, já perto de 12h20, policiais do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope), conseguiram fazer com que os quatro se entregassem, ao terem seus pedidos (a presença da imprensa e um advogado) atendidos.

A vítima, uma mulher de aproximadamente 35 anos, não se machucou. Com os quatro, a polícia apreendeu três fuzis 762 e duas pistolas. As armas apreendidas e os presos foram encaminhados ao Cope. O advogado acompanhou todo o andamento da ocorrência.

Tiros a todo momento

Próximo ao presídio e na mesma rua onde os quatro homens fizeram a mulher refém, no começo da manhã houve um confronto entre policiais militares e homens armados. No local até bombas foram estouradas. A Tribuna apurou que este confronto aconteceu com alguns presos que escaparam e outros que teriam dado cobertura para a fuga, mas ninguém se feriu e nenhum dos suspeitos foi localizado.

Aos arredores do presídio, o clima era de tensão, tanto por parte dos familiares que lá estavam, como também pelos próprios policiais que chegavam a todo momento. Dois helicópteros da PM sobrevoaram durante todo o dia a área do complexo penitenciário e ajudaram, em alguns momentos, em possíveis localizações dos presos. Tiros foram ouvidos ao longo do dia, mas a polícia não confirma se houveram outras mortes.

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O caos anunciado

O complexo de Piraquara é composto por duas unidades. A Penitenciária Estadual de Piraquara 1 (PEP 1) é de segurança máxima, com capacidade para 723 presos condenados. Já a Penitenciária Estadual de Piraquara 2 (PEP 2) tem 960 vagas. Juntas, somam 1.683 vagas.

Na PEP 1, segundo o diretor jurídico do Sindicato dos Agentes Penitenciários do Paraná (Sindarspen), é onde estão os presos que fazem parte da maior organização criminosa do Paraná. “Aqui no Estado não acontece o que acabou acontecendo nos outros presídios do país, porque no Paraná nós só temos uma facção criminosa nos presídios, então, não há guerra entre eles. Mas o caos está anunciado e nós não vivemos numa ilha”, explica Ricardo de Carvalho Miranda.

O diretor jurídico do Sindarspen denunciou ainda que, na madrugada deste domingo, apenas nove agentes faziam a segurança do presídio. “Eles não teriam como controlar sozinhos. É como cuidar de uma agulha no palheiro. A situação está bem complicada”, desabafou Ricardo.

Ainda de acordo com Ricardo, novas rebeliões podem acontecer no Estado nos próximos dias. “Os agentes ainda estão trabalhando duro e têm conseguido controlar a situação, mas vai chegar um momento que a coisa vai sair do controle. Em Cascavel, no Oeste do Paraná, os presos já prometeram que quando se rebelarem eles vão matar agentes penitenciários também”.

Vídeos

Veja as transmissões ao vivo feitas, pelo Facebook da Tribuna, direto do presídio: