Curitiba

Professoras ‘treinadas’ simulam brincadeira para proteger crianças de tiroteio

Foto: Atila Alberti

Crianças de um CMEI do bairro Tatuquara, em Curitiba, passaram um sufoco ontem à tarde, por causa de um tiroteio que ocorreu bem ao lado da escola. Mas como os funcionários estavam treinados para lidar com situações como esta, conseguiram proteger as crianças sem que elas percebessem que tratava-se de uma situação de perigo. O confronto entre três suspeitos de assalto e a Polícia Militar terminou com um ladrão sem identificação, aparentando cerca de 20 anos, morto e os outros dois conseguiram fugir.

Tudo começou com um assalto na Multiloja da Rua Marcos Bertoldi, no Rio Bonito, bairro Tatuquara. Aliás, do começo do ano até agora, esta loja já sofreu com pelo menos 30 assaltos, sem contar os arrombamentos noturnos. Conforme a gerente da loja, Sônia Bispo, era por volta das 15h40 quando um carro parou em frente à loja. “Só pelo jeito deles estacionarem, já vi que era assalto. Tem acontecido tantos roubos que a gente já até conhece pelo jeito de parar o carro”, contou Sônia. Conforme ela, entraram dois armados e já foram levando os funcionários para o estoque. Em seguida, entrou o motorista do veículo, também armado. O carro era um HB20 furtado no município de Mandirituba, na noite anterior. Nele os bandidos trocaram as placas pelas de um Ônix, sem alerta de roubo. Porém mantiveram as placas originais dentro do carro.

Os marginais “limparam” a prateleira de celulares e tablets da Multiloja e, como não conseguiram os celulares e notebooks caros que queriam, pegaram outros eletroeletrônicos que podiam carregar em sacolas, como liquidificadores, TV’s, aparelhos de som, etc. Ainda pediram pelo cofre, mas não há cofre na loja.

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Conforme a gerente, um dos vendedores tinha acabado de sair da loja para buscar uma jaqueta, pois sentia frio. Quando estava voltando e percebeu que um assalto estava acontecendo, foi correndo para a loja. Isto assustou os ladrões, que desistiram de encher mais as sacolas e foram embora. Os lojistas vizinhos também viram o roubo e acionaram a polícia, que chegou rápido e localizou os assaltantes na Rua Algacyr Manoel Voluz, no Jardim Ludovica.

Os marginais entraram à esquerda na Rua Doutor Jayme Gasparim, bem na esquina do CMEI Tânia Brandt e, quando viram que a rua era sem saída, tentaram dar um cavalo de pau para retornar, mas foram para cima da calçada e entortaram a roda. Então decidiram sair do veículo para fugir a pé, momento em que entraram em confronto com os policiais militares do 13º Batalhão.

Um dos bandidos fugiu pela Rua Algacyr Manoel Voluz, onde largou uma jaqueta e uma pistola, que depois os policiais viram que era de brinquedo. Os outros dois foram até o final da rua sem saída, a Jayme Gasparim, onde subiram uma escada e chegaram até um extenso terreno. Correram por ele até entrarem na Estação de Tratamento de Esgoto CIC Xisto, da Sanepar, onde se depararam com outra equipe policial, que já fazia o cerco pelo lado oposto. Houve novo confronto e um dos bandidos foi morto. O outro escapou pelo matagal. Policiais continuaram a fazer rondas até o fim da tarde na região, mas nada encontraram.

Professoras treinadas

O CMEI Tânia Brandt foi inaugurado há sete meses e, por enquanto, só tem duas turmas, totalizando 40 crianças bem pequenas. Na hora do tiroteio, explicou Lucinéia Rocha, diretora do CMEI, as professoras já fizeram as crianças deitarem no chão. Com muita psicologia, para não assustá-las, disseram que naquele momento era hora de brincar de deitar no chão. Assim, as crianças realmente pensaram que se tratava de brincadeira e que lá fora havia alguma comemoração. Não imaginaram que eram tiros, muito menos que era algo ruim acontecendo.

“Faz parte do treinamento que todas as funcionárias receberam da prefeitura. Quando eu fui nas salas avisar, já estavam todos deitadinhos no chão, com as professoras protegendo”, explicou a diretora. Em seguida, a diretora e outras funcionárias correram trancar todas as portas e janelas da escola, temendo alguma invasão dos bandidos ao local. Quando os tiros cessaram, levaram as crianças para o corredor e as mantiveram lá sentadinhas até a chegada dos pais, pois temiam que os bandidos dessem a volta na escola e o tiroteio continuasse do outro lado. Ninguém ficou ferido no CMEI.

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