No Centro

Manifestantes fazem protesto contra médium suspeito de abusar sexualmente de menores

Foto: Átila Alberti

Encampando a frase “Chega de Abuso”, familiares de supostas vítimas do médium Maury Rodrigues da Cruz e ex-voluntários da Sociedade Brasileira de Estudos Espíritas (SBEE) fizeram um protesto em frente à sede do Ministério Público do Paraná (MP) da Rua Tibagi, no Centro de Curitiba, na tarde desta sexta-feira (22).

O médium seria interrogado nesta tarde e a manifestação era em apoio ao MP, que investiga supostos abusos sexuais que o médium teria cometido contra homens “jovens e bonitos”, nos últimos anos. No Núcleo de Apoio à Vítima de Estupro (Naves), do MP, já existe o registro de 57 vítimas, boa parte delas, ouvidas na investigação.

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Maury estava com a sua oitiva marcada para às 14h desta sexta-feira. No entanto, ele teria alegado problemas de saúde e não compareceu à audiência. Mesmo assim, os manifestantes permaneceram no local até por volta das 15h30, com faixas e manifestações verbais. A nova audiência para interrogatório do médium ainda não tem data marcada. A primeira vítima relatou sua denúncia ao MP no início de fevereiro.

Uma das voluntárias da SBEE, que atuou na sede do bairro Santa Cândida por 25 anos, conta que ficou chocada quando descobriu o que estava acontecendo debaixo do nariz dela e de muitos outros voluntários, que também não faziam ideia dos abusos. Ela pediu para não ter o nome divulgado, pois foi uma das testemunhas que prestou depoimento ao MP. Ela contou que trabalhava como uma espécie de serviçal para o médium.

“Ele usava uma senhora já com certa idade, como eu, pra validar o trabalho dele, trazer certa confiança, idoneidade. Fiquei chocada”, diz ela, que agora descobriu que um familiar dela também sofreu os abusos há 20 anos, quando o rapaz ainda era adolescente.

Abusos

A voluntária explica que os abusos ocorriam depois das consultas normais. Nas sessões espíritas, as pessoas buscavam o centro para conseguirem a cura de alguma doença, ou algum apoio espiritual para passar por alguma situação difícil. Ainda durante as consultas, Maury selecionava algumas pessoas para participarem de outra sessão, em seguida, chamada de ectoplasmia. E o perfil dos escolhidos era sempre o mesmo: homens jovens e bonitos.

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Conforme a voluntária, todas as pessoas possuem fluídos no corpo, o ectoplasma, que segundo a crença espírita ajuda o médium a receber espíritos médicos que auxiliam a curar a doença das pessoas. Quanto mais pessoas reunidas, maior a energia concentrada e maior a facilidade dele receber o espírito do médico Leocádio José Correia.  Mas os voluntários não participavam da ectoplasmia e só entravam na sala quando eram chamados pelo médium, quando ele precisava de algo. Por isto, não presenciavam nada de errado.

“E os homens que participavam da ectoplasmia também demoravam para desconfiar que estavam sendo abusados, pois a grande maioria deles que procura o Centro Espírita está fragilizado psicologicamente por algum motivo e vão para buscar ajuda. E quando eram convidados para a ectoplasmia, iam com fé achando que estavam emprestando o seu corpo, o seu ectoplasma, para ajudar outras pessoas que buscavam cura também”, explica a voluntária.

Incredulidade e revolta

“Se você for olhar para cada um destes homens, são pessoas boas, que achavam que estavam fazendo o bem. Achavam que isso fazia parte da ectoplasmia. E muitos deles que entenderam que estavam sendo abusados passaram anos na solidão, guardando isso para si, sem contar para ninguém, pois já não bastasse a fragilidade psicológica, imagina a vergonha de contar isso a alguém. Por isso a nossa manifestação não é só contra abuso sexual. É contra o abuso psicológico, contra o abuso financeiro cometido contra muitas pessoas que doaram dinheiro para a construção e funcionamento da SBEE”, reclama outra voluntária, Lurdes Maria Perussi, que trabalhava com recepcionista e sempre fazia palestras de abertura ao lado do médium, antes das consultas.

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“A primeira reação minha, e de vários voluntários, foi de incredulidade. Mas quando confirmei tudo com as vítimas, rompi totalmente com o Centro Espírita. Não compactuo com isto ocorrendo dentro de uma casa religiosa. Isso é oposto aos ensinamentos de Allan Kardec. Eu continuo acreditando na doutrina espírita, na moral cristã. Mas lá eu nunca mais voltei”, lamenta Lurdes.

Até o momento, são 57 vítimas que constam na investigação do MP. No entanto, os voluntários acreditam que possa haver mais de 600 vítimas, pois as sessões de ectoplasmia ocorriam há anos, todas as segundas, quartas e sextas, com um número considerável de homens por sessão. “Pode ser o maior caso de abuso sexual do Brasil, se não do mundo”, analisa uma das voluntárias.

O que diz o médium

A Tribuna tentou contato com a SBEE, ao longo da tarde desta sexta-feira. Mas o telefone estava sempre ocupado. Também encaminhou e-mail, porém até o início da noite ele ainda não havia sido respondido.

Em apoio a Maury,  uma nota foi publicada e divulgada na página da SBEE no Facebook. Ela é assinada por um grupo de 52 pessoas que participam das sessões de ectoplasmia e afirmam que as acusações são inverídicas e que o trabalho feito pelo médium é sério e dentro da retidão de propósitos que é conduzir o espírito do médico Leocádio José Correia. Confira na íntegra a nota da SBEE:

Nota da SBBE em solidariedade ao médium. Imagem: Reprodução/Facebook
Nota da SBBE em solidariedade ao médium Maury da Cruz. Imagem: Reprodução/Facebook

 

 

 

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