Depoimento!

Edison Brittes dá detalhes dos momentos que antecederam a morte de jogador

Um interrogatório longo e cheio de perguntas sem respostas. Assim pode ser definido o que foi dito por Edison Brittes Junior, conhecido como “Juninho Riqueza”, durante mais de seis horas, nesta quarta-feira (7). A Tribuna do Paraná teve acesso ao depoimento do homem, que confessou a morte do jogador de futebol Daniel Corrêa Freitas, que não esclareceu alguns pontos sobre como aconteceu de fato o assassinato do rapaz. Edison continua dizendo que o motivo do crime se deu por ter flagrado Daniel tentando estuprar a esposa dele, informação que até a polícia já passou a desconfiar.

Edison confirmou que na casa noturna no bairro Batel, onde a festa foi feita, tudo ocorreu normalmente. Em detalhes, o homem contou que foram consumidas 35 garrafas de vodka, em cerca de 80 pessoas, que ficaram divididas em dois camarotes reservados pela família. Ele disse que não consumiu substância entorpecente na casa noturna.

Ao fim da festa, já por volta de 6h30, Edison disse que foi embora com a esposa, Cristiana, a filha, Allana, e um casal de primos que estava hospedado em sua casa. Contrariando o que Allana disse, que não teria nada combinado sobre uma continuação da comemoração em casa, Edison contou à polícia que, durante a festa na casa noturna, sua filha lhe disse que estariam combinando de fazer um “after” em casa.
Edison, em primeiro momento, teria negado à filha a autorização para a continuação da festa, porque percebeu que Cristiana tinha bebido demais e que já estava “quase dando ‘pt”. Porém, depois, aceitou que a festa continuasse.

Havendo certa contradição, Edison disse que no caminho até a sua casa ninguém comentou se a festa continuaria, mas afirmou que, na saída da casa noturna, alguns amigos de Allana queriam ir junto com eles no carro e ele disse que não caberia mais ninguém. Essas pessoas então teriam dito que iriam de aplicativo.

Quando chegaram em casa, Edison disse que fez dois ovos para a esposa, enquanto isso Allana e o casal de primos ficaram na parte do salão de festas. Ele disse que Cristiana comeu e foi deitar, afirmou ainda ter colocado a esposa na cama, mas também que ela, antes de se deitar, “deu uma acordada” e subiu na mesa dançando um pouco. Edison disse que pediu que a filha colocasse um shorts na mãe, ela foi deitar e disse ter encostado a porta do quarto.

Edison afirmou que só depois que a esposa já estava dormindo que chegaram outras duas jovens, acompanhadas de Lucas ‘Mineiro’ e Daniel. Ele confirmou que o jogador de futebol não foi convidado para o ‘after’ e que entrou no carro para ir junto, na saída da casa noturna.

Flagra no quarto

O homem que confessou a morte de Daniel contou que foi até um mercado próximo de casa, onde comprou uma garrafa de vodka e energético. Na volta, Edison disse ter preparado um narguilé e percebido então que Daniel não estava na área da festa. Segundo Edison, o rapaz ficava bastante no celular e ele achou que Daniel estaria com a amiga de Allana, que ele teria conhecido na casa noturna.

Edison disse que decidiu ver como a esposa estava e, ao se aproximar do quarto, disse ter ouvido Cristiana gritar por socorro duas vezes, “crendo que só ele poderia ouvir o pedido já que era quem estava mais próximo da porta do quarto”, destacou o interrogatório.

O homem disse que, ao verificar, a porta do quarto estava fechada e aí mudou sua versão dos fatos novamente. Contrariando o que ele havia dito em entrevista à RPCTV, que teria arrombado a porta do quarto com o ombro, Edison disse à polícia que resolveu ir até a janela, pela parte de fora da casa, que ficava apenas encostada, sem estar trancada, e viu Daniel “montado” em cima de Cristiana, de joelhos.
Edison disse que, nesse momento, um dos irmãos de sobrenome Purkote já estava com ele. Ele contou que entrou no quarto pela janela, pegou Daniel pelo pescoço e o derrubou pelo lado esquerdo da cama. Nesse momento, Daniel teria dito a ele “desculpa, não sei o que eu to fazendo aqui, não sei o que está acontecendo”, e então Edison chamou pelas pessoas que estavam na casa e sua esposa Cristiana apresentava ‘olhar de agradecimento’. Ele disse que a mulher deu um suspiro e saiu pela janela, gritando por socorro e pedindo ajuda.

O empresário disse que chamou todo mundo “para ver o que aquele vagabundo estava fazendo”, dizendo que “ele estava tentando estuprar a Cris”. Ele disse que, até então, só tinha imobilizado Daniel, não tinha o agredido fisicamente.

Agressões

Segundo Edison, um dos irmãos Purkote estourou a porta do quarto e, nisso, outros rapazes também entraram. Nesse momento, Edison disse que começou a bater em Daniel, com socos e cotoveladas, o segurando pelo pescoço com uma mão e batendo com a outra, afirmando ter feito jiu-jitsu e o imobilizou, sendo que Daniel tentava sair, mas Edison o segurou e o agrediu mais.

Conforme o que consta no interrogatório, os rapazes começaram a questionar Daniel e também agrediram o jogador. Edison disse que pediu para retirarem Daniel do quarto e levaram para a parte de fora da casa, onde o rapaz apanhou mais. Edison disse que quem agredia Daniel era ele mesmo, um dos irmãos Purkote, Ygor, Deivid e Eduardo. Enquanto isso, afirmou que as mulheres pediam para parar com as agressões, mas sem sucesso.

Do lado de fora da casa, Edison contou que um dos rapazes teria dado a ideia de tirar a cueca de Daniel, mas disse não ter sido ele quem tirou. Edison afirmou que sua intenção era a “de humilhar o jogador, pois ele teria feito tal desonra com ele” e que teve a ideia de pegar o carro e largar Daniel na rua, pelado, e que pensou em filmá-lo pelado, andando na rua.

Edison pegou o carro e parou o veículo de ré, pensando em dar um susto em Daniel. A ideia era fazer o jogador passar vergonha e humilhação. Daniel foi colocado no porta-malas do carro e, segundo Edison, nesse momento “os piás” estavam em choque devido a situação. Com Daniel no porta-malas, entraram no carro Edison, Deivid (no banco da frente), Eduardo e Ygor atrás.

Morte sem respostas

A partir do momento em que entraram no carro, Edison não quis contar mais nada sobre o que aconteceu após isso. Ele se resguardou no direito de se manter em silêncio, até que sejam concluídas as diligencias da polícia, ou seja, laudos do IML e Criminalística. Edison não quis comentar sobre para onde foi depois de sair de sua casa, mas disse que sua saída se deu pelo bairro onde mora e que não foi ao local onde o corpo foi encontrado, disse que a todo o momento estava acompanhado dos rapazes no carro e que sua intenção era a de deixar Daniel bem longe.

Edison também ficou em silêncio sobre a forma em que Daniel foi encontrado morto e não quis falar sobre a ideia de cortar o pênis do jogador, também não comentando sobre o corte no pescoço. Os policiais também perguntaram se enquanto a vítima era morta algum dos rapazes teria participado e ele não quis comentar. Edison disse que não sabe em que momento trocou de roupas, mas que se lembra de que, ao chegar em casa, já usava roupas limpas.

Sobre os objetos de Daniel, Edison disse que o celular do jogador foi quebrado por um dos irmãos Purkote e que o celular foi jogado fora. Ele disse ainda não saber o paradeiro de seu próprio celular e que não se lembrava sequer quando teria sido a última vez que usou o aparelho. O empresário comentou ainda que só tinha visto Daniel por duas vezes, a primeira no aniversário de 17 anos de Allana e a segunda neste ano, e que o jogador foi convidado pela filha, mas que nunca tinha conversado com ele, apenas cumprimentos normais.

Encontro no shopping

Alegando não ter ameaçado ninguém, Edison defendeu a tese de que marcou o encontro no shopping com os irmãos Purkote e Lucas ‘Mineiro’ para “protege-los”. O empresário contou que Allana quem marcou o encontro e disse que queria coloca-los “debaixo do braço”, assumindo toda a responsabilidade pelo crime. No shopping, Edison afirmou que a esposa e a filha ficaram em outra mesa e não presenciaram a conversa.

Ele disse que falou aos rapazes que assumiria a responsabilidade pelo crime, ‘os tirando da pedrada e livrando-os de qualquer imputação’, que o encontro não durou mais de dez minutos e que, um dos rapazes teria lhe dado um beijo ao chegar e se despedido da mesma forma ao fim da conversa. Edison disse também ter ido, no mesmo dia, até a casa de uma das meninas e disse a ela que assumiria a responsabilidade pelo crime, negando qualquer ameaça.

Advogado rebate

O advogado Claudio Dalledone Junior, que representa a família Brittes, afirmou que Edison não deu todos os detalhes sobre o crime porque realmente quer aguardar o trabalho da polícia, inclusive a chegada dos laudos da Polícia Científica. Sobre possíveis contradições entre a versão apresentada por Edison no interrogatório à polícia e o que ele já teria dito anteriormente, em entrevista à RPCTV, Dalledone disse que não houve nenhuma contradição. “Ele foi ouvido de forma oficial e disse por onde entrou. Fez para proteger os outros meninos, já que era o homem mais velho ali”, explicou o advogado, em entrevista à RPCTV.

Dalledone disse ainda que, como se tratava de um interrogatório oficial, foi pedido que Edison não omitisse nada. “E ele contou exatamente como aconteceu, detalhou, falou do envolvimento de todos”. Ainda conforme o advogado, o encontro no shopping não pode ser visto como uma ameaça ou forma de intimidar os rapazes e sim como uma atitude de Edison para defendê-los.  “Ele disse que se reuniu com essas pessoas porque queria assumir, isso não é uma contradição. Uma testemunha disse ter se sentido ameaçada, mas isso não significa que ele tenha ameaçado alguém, inclusive, no interrogatório ele disse que um dos rapazes lhe deu oi com um beijo e se despediu da mesma forma”.

Investigações continuam

Nesta quinta-feira (8), o delegado Amadeu Trevisan pediu uma nova perícia na casa onde a família mora, em São José dos Pinhais, Região Metropolitana de Curitiba (RMC). Este vai ser o terceiro trabalho dos peritos na residência. Ainda nessa semana, depois do interrogatório de algumas testemunhas, o delegado afirmou que não houve tentativa de estupro do jogador.

Amadeu Trevisan, que ainda não se posicionou depois de ouvir Edison, já tinha dito que as testemunhas apontam para um pedido de ajuda de Daniel e não de Cristiana. “A versão da tentativa de estupro, com essas testemunhas, e com o arrombamento da porta também. Ele estava muito embriagado, estava muito aquém de conseguir realizar algum estupro. Para nós, o Daniel simplesmente estava na cama”, afirmou o delegado.

Leia na íntegra o interrogatório

+ Confira o desenrolar dos acontecimentos:

Sábado (27): Ex-jogador do Coritiba é encontrado morto em São José dos Pinhais

Quarta (31): Corpo de Daniel é velado em Minas Gerais

Quarta (31): Daniel foi espancado antes de ser morto, diz testemunha

Quinta (1): Suspeito de matar ex-jogador é preso, junto com esposa e filha

Sexta (2):  Perícia na casa onde ex-jogador foi agredido antes de ser morto pode revelar detalhes do crime

Sexta (2): Conversas de Whatsapp apontam que filha de suspeito fez contato com família de jogador

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