Delivery de droga!

Denarc deflagra operação contra sistema de ‘disque-drogas’ e prostituição

Após cinco meses de investigação, um verdadeiro delivery de drogas foi descoberto e fechado pela Divisão de Narcóticos da Polícia Civil (Denarc) nesta quinta-feira (23). Entre os usuários, ou “clientes”, estavam uma médica, uma funcionária da Assembleia Legislativa do Paraná (Alep) e uma funcionária da Prefeitura de Curitiba, suplente de vereador em Almirante Tamandaré, na Região Metropolitana de Curitiba (RMC). Os usuários, além dos 16 presos, vão ser investigados.

Segundo as investigações, os traficantes forneciam drogas como cocaína, crack, maconha e ecstasy, para uma clientela grande. A venda era feita de várias formas, mas a principal era o disque-drogas, telefone direto que os usuários ligavam para que recebessem a droga sem que fossem descobertos.

Entre os presos está Paulo Adriano Reis, conhecido como “Tio Paulo”, o principal investigado e apontado pela Denarc como o líder da quadrilha. O homem usava um restaurante de fachada como espaço para a distribuição das drogas. “Grande parte das entregas eram marcadas nesse restaurante, que fica no bairro Água Verde. Lá dentro, havia um quarto, em que Paulo armazenava os objetos para a distribuição. O restaurante não recebia frequentadores, mas sim usuários”, explicou a delegada Camila Cecconello.

Para a entrega, além do restaurante falso, a quadrilha usava táxis, motoristas do uber, motoboys e prostitutas. “O líder tinha contato com várias casas de prostituição, principalmente do Centro de Curitiba. Ele distribuía para prostitutas, que revendiam para os clientes. As prostitutas também recebiam drogas em motéis, festas fechadas, e elas repassavam aos clientes”, contou a delegada.

Usuários da elite

Durante as investigações, os policiais descobriram que a quadrilha forneceu cocaína para uma médica durante o plantão em um hospital. “Depois descobrimos que ela pedia a droga de plantão ou em casa, é uma usuária corriqueira. Mas muitas vezes, trabalhando, ela recebeu droga no hospital”, detalhou Camila Cecconello.

No caso da médica, que trabalhava em Unidades de Terapia Intensivas (UTIs) em pelo menos três hospitais de Curitiba, um deles particular, foi determinado pela Justiça a apuração do uso de drogas no hospital. Caso isso seja confirmado, além do emprego, a profissional pode perder o registro no Conselho Regional de Medicina (CRM).

Ainda durante os cinco meses de investigação, os policiais descobriram que os pedidos de drogas eram feitos por várias pessoas da elite curitibana. A Tribuna do Paraná apurou que uma funcionária da Assembleia Legislativa do Paraná (Alep) pediu, diversas vezes, drogas de dentro do gabinete do deputado que trabalha. Conforme levantou a reportagem, o deputado não sabia do vício da mulher, que inclusive é amiga da médica investigada. Caso sejam comprovados os pedidos pelo telefone da Alep, a funcionária pode ser exonerada do cargo.Denarc1

Candidata à vereadora na mira

Ana Carolina de Souza, uma das presas na operação da Denarc, auxiliava o líder da quadrilha na venda e distribuição das drogas, conforme informou a Polícia Civil. A mulher, que foi candidata à vereadora em Almirante Tamandaré, na RMC, chegou a usar o carro da campanha para entregar droga.

“A moça acabou suplente de vereadora da cidade. Além disso, ela é funcionária da prefeitura de Curitiba e está afastada para tratamento de saúde. Nós percebemos que durante este afastamento ela praticava o tráfico de drogas. O contato dela era feito por telefone com o Paulo, que pedia e apontava os endereços a serem entregues as drogas. Ele também chegou a usar o veículo da campanha”, contou a delegada.

Segundo as investigações, cada um dos integrantes da quadrilha vendia, por dia, em torno de 50 buchas de cocaína, a um preço de, aproximadamente R$ 50 cada. “Eles movimentavam grande quantia em dinheiro. Para eles, era altamente rentável”. Paulo foi preso em flagrante, no momento em que marcou uma entrega de drogas para a médica, no bairro Batel. A médica também foi encaminhada à delegacia, mas respondeu a um termo circunstanciado, foi liberada, mas como já explicou a delegada, vai ser investigada.

Trabalho intenso

As investigações foram tão detalhadas por parte da Denarc, que, em maio deste ano, os policiais descobriram um casal, que também fazia parte da quadrilha. Os dois foram presos, mas a mulher acabou solta. Conforme a polícia, de dentro da cadeia, o marido dava ordens para a esposa para que cobrasse dívidas de drogas do lado de fora.

Dos 17 mandados de prisão, apenas o de Aurélio Kalel de Oliveira Leal não foi cumprido, pois ele não foi encontrado. A operação teve apoio da Guarda Municipal (GM) de Curitiba e de São José dos Pinhais, junto com policiais da Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) e do Tático Integrado de Grupos de Repressão Especial (Tigre).

Apreensões

Durante o trabalho policial, a Denarc apreendeu na casa dos investigados 85 quilos de maconha, 200 gramas de cocaína e 350 comprimidos de ecstasy. Também foram recolhidos dois revólveres calibre 38, dois coletes balísticos e celulares. Em dinheiro, os policiais encontraram cerca de 3 mil reais e 95 dólares, mas a droga apreendida poderia render quase R$ 100 mil aos investigados.

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Vídeo

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