Rebelião e fuga

Ataque à Penitenciária de Piraquara começou às 2 da madrugada

Buraco aberto com explosivos: foi por aí que as armas entraram no presídio/Foto: Colaboração/Depen

Duas explosões em um dos muros do Complexo Penitenciário de Piraquara, na Região Metropolitana de Curitiba, ocasionaram a fuga de 28 detentos. A ação aconteceu durante a madrugada deste domingo (15) na Penitenciária Estadual de Piraquara I (PEP I), onde dois dos fugitivos foram mortos em confronto com a polícia na área externa do complexo. Dezenas de viaturas da Polícia Militar e dois helicópteros da PM vasculharam a região com o objetivo de localizar presos, mas 26 continuam foragidos.

De acordo com a Secretaria a Segurança Pública e Administração Penitenciária do Paraná (Sesp-PR), a fuga aconteceu por volta das 5h, depois que pessoas de fora do complexo explodiram um dos muros para passar armamento aos prisioneiros e abrir caminho.

No entanto, a ação começou bem antes. Para tirar o foco das explosões, os presos começaram um motim em um dos prédios, a Casa de Custódia de Piraquara (CCP) por volta das 2h. Isso fez com que as equipes da Polícia Militar, do Setor de Operações Especiais (Soe) do Departamento Penitenciário (Depen) e do Centro de Operações Policiais Especiais (Cope) se deslocassem até o local.

Enquanto isso, cerca de 15 homens fortemente armados se organizavam em um matagal do lado de fora da penitenciária para dar continuidade à ação. Assim, por volta das 5h, tiros foram disparados contra algumas das guaritas de segurança do presídio e duas explosões aconteceram no muro. “A primeira não deu certo, então eles fizeram uma segunda tentativa para abrir a passagem”, disse o secretário de segurança, Wagner Mesquita.

Segundo ele, por esse espaço os prisioneiros tiveram acesso a armamento de guerra e iniciaram um confronto com os policiais dentro e fora do presídio. “Trata-se de uma ação orquestrada há muitos dias. Apesar disso, a Polícia Militar e o Soe deram uma resposta imediata e eficaz evitando uma fuga em massa”, afirmou.

Durante a ação, dois presos foram mortos e os corpos foram encontrados durante a varredura na área externa do presídio. Com eles, havia uma metralhadora Uzi 9 milímetros, além de uma bolsa com aproximadamente 300 cartuchos calibre 5,56 e um colete balístico. Os policiais encontraram ainda uma barraca, com alimentos e bebidas, que teria sido usada pelo grupo que deu cobertura para a fuga.
Famílias esperando respostas

Desde as primeiras horas da manhã, muita gente se aglomerou nas entradas da penitenciária. O domingo seria dia de visitas das crianças, mas as visitas foram suspensas em todas as penitenciárias do estado.

Mesmo estando do lado de fora, os familiares estavam perdidos e alguns ainda esperavam por respostas. “Estamos sem saber o que está acontecendo, mas não vamos sair daqui”, disse a esposa de um detento. Além disso, alguns dos parentes conseguiram conversar com presos que estão do lado de dentro do complexo penitenciário e contaram que os presos afirmaram nunca terem ouvido tantos tiros na prisão.

Segundo a Sesp, o confronto realmente foi intenso e prolongado a fim de evitar a evasão dos 180 detentos da PEP 1 e também dos 216 localizados na Casa de Custódia. No entanto, a secretaria afirma que os familiares já receberam a lista dos fugitivos, enquanto a imprensa só terá acesso às informações a partir de segunda-feira (16).

Primeiras prisões
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Foto: Pedro Serápio

Durante a fuga, quatro homens suspeitos de dar cobertura para a fuga de presos fizeram uma família refém num haras na cidade de Quatro Barras (RMC). Depois de aproximadamente cinco horas de negociações, já perto de 12h20, policiais do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope), conseguiram fazer com que os quatro se entregassem ao terem seus pedidos (a presença da imprensa e um advogado) atendidos.

Os homens foram identificados como João Carlos Fernandes Silva, conhecido como Carlão; Hernandes Cabral Santos, apelidado de Nandinho; Uiverson Zornitta Constantino e Edimo Andre Brunning Silva, chamado de Cherokee.
A vítima, uma mulher de aproximadamente 35 anos, não se machucou. Com os quatro, a polícia apreendeu três fuzis 762 e duas pistolas. As armas apreendidas e os presos foram encaminhados ao Cope. O advogado acompanhou todo o andamento da ocorrência.

O caos anunciado
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Farto armamento e ferramental próprio para a operação./Foto: Pedro Serápio

O complexo de Piraquara é composto por duas unidades. A Penitenciária Estadual de Piraquara 1 (PEP 1) é de segurança máxima, com capacidade para 723 presos condenados. Já a Penitenciária Estadual de Piraquara 2 (PEP 2) tem 960 vagas. Juntas, somam 1.683 vagas.
Na PEP 1, segundo o diretor jurídico do Sindicato dos Agentes Penitenciários do Paraná (Sindarspen), é onde estão os presos que fazem parte da maior organização criminosa do Paraná. “Aqui no Estado não acontece o que acabou acontecendo nos outros presídios do país, porque no Paraná nós só temos uma facção criminosa nos presídios, então, não há guerra entre eles. Mas o caos está anunciado e nós não vivemos numa ilha”, explica Ricardo de Carvalho Miranda.

Buraco aberto com explosivos: foi por aí que as armas entraram no presídio/Foto: Colaboração/Depen
Buraco aberto com explosivos: foi por aí que as armas entraram no presídio/Foto: Colaboração/Depen

O diretor jurídico do Sindarspen denunciou ainda que, na madrugada deste domingo, apenas nove agentes faziam a segurança do presídio. “Eles não teriam como controlar sozinhos. É como cuidar de uma agulha no palheiro. A situação está bem complicada”, desabafou Ricardo.

Entretanto, o diretor da Depen Luiz Alberto Cartaxo explica que nove agentes poderiam estar na parte interna, mas a equipe em trabalho era muito maior porque contava com os postos externos, outros postos de trabalho e também os policiais do Soe. Mesmo assim, ele adianta que novos agentes penitenciários serão nomeados e que a situação da mão e obra no departamento penitenciário continua sendo analisada.

Evitando o pior
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Parte do bando que libertou os detentos não conseguiu fugir/Foto: Pedro Serápio

De acordo com a Secretaria a Segurança Pública e Administração Penitenciária do Paraná (Sesp-PR), não havia informações a respeito desta fuga no Complexo para que as equipes se preparassem com antecedência para enfrentar o ocorrido. No entanto, o secretário de segurança Wagner Mesquita informa que, desde outubro de 2015, o sistema de inteligência da Sesp tomou conhecimento da guerra entre facções e tem tomado diversas medidas a respeito.

“Nós aumentamos as revistas, movimentamos os presos para evitar que em um eventual confronto ocorressem mortes, começamos a fazer o mapeamento efetivo da movimentação desses presos e informamos a Polícia Civil e Polícia Militar. Estamos encarando o problema de frente e o que aconteceu hoje mostra que o resultado é positivo, pois evitamos a fuga de centenas de presos”, pontuou.
Além disso, ele informa que o Cope investigará o caso, enquanto as demais forças de segurança estão empenhadas na recaptura dos detentos que conseguiram fugir. A lista com nome e foto dos 26 foragidos deve ser divulgada na segunda-feira (16).

entrevista
Secretário Wagner Mesquita faz o balanço da situação./Foto: Pedro Serápio