Saudosismo pessimista

Recuso-me a ser pessimista. Primeiro porque ainda sou relativamente jovem e os jovens têm o incorrigível hábito (ou instinto) de ter fé na vida, mesmo quando racionalmente não se vislumbra tanto futuro assim. Segundo porque não acho que hoje haja mais motivos para chorar do que no passado.

Desde que povoamos esse planeta não tivemos um dia sequer de paz. Éramos, por exemplo, mais felizes na Idade Média, onde reinavam a ignorância e as pestes? Ou nos tempos da escravidão, com povos inteiros sem perspectiva alguma de felicidade? Ou quando a medicina era precária e havia infinitas doenças incuráveis? Éramos então mais felizes durante as grandes Guerras Mundiais? Ou durante as inúmeras perseguições políticas, religiosas ou raciais? Ou, quem sabe, havia mais felicidade num passado sem comunicação, eletricidade ou água encanada? É evidente que em alguns aspectos pioramos; em outros melhoramos, mas na maioria apenas nos repetimos, nada obstante o saudosismo de muitos.

O saudosismo, aliás, é sempre compreensível porque se trata de uma defesa emocional em face do crepúsculo da própria existência. Mas há o saudosismo otimista e o pessimista: um é o hábito consciente de recordar as boas lembranças; e o outro, inconsciente, de desdenhar do futuro pelo ressentimento de saber que dele não irá participar.

Djalma Filho é advogado – djalmafilho68@uol.com.br

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