Saudades

Há poucos dias, faleceu o desembargador Plínio Cachuba, figura de escol da Justiça paranaense. Seu falecimento, certamente, cria uma grande lacuna entre os magistrados e membros do Poder Judiciário do Paraná.

Conheci pouco o desembargador Cachuba, mas admirei veementemente o juiz de Direito, que (atuou) judicou por vários anos na minha terra natal.

Pela minha lembrança de guri, pois não fiz nenhuma consulta, no final da década de 50 ou no começo dos anos 60, não importando com a exatidão, o juiz de Direito Plínio Cachuba, ainda jovem, assumiu as suas funções em Cambará-PR.

Nessa época eu contava com 11 ou 12 anos de idade e ao me encontrar com a pessoa do juiz, sempre nas proximidades do Cine Casablanca, pois ele costumava fazer o trajeto de sua casa, que ficava em frente à Igreja Matriz, até o Fórum, a pé, eu era tomado por imensa emoção. Quantas vezes perguntei-lhe timidamente, se ele queria engraxar seus sapatos, pois era o que eu fazia naquela época, mas nunca consegui êxito, por ser ele um homem sempre muito ocupado.

Por muitos anos fui um admirador do dr. Cachuba, pessoa bem integrada à comunidade cambaraense, que hoje certamente, chora a sua partida.

Nos dias de julgamentos pelo Tribunal do Júri, eu sempre tentei entrar no auditório do Fórum, mas também nunca consegui. Naquela época, a função do comissário de menores, que era o Doro, consistia em impedir a entrada de menores na assistência. Contudo, me lembro como se fosse hoje, ele, o Doro, sabedor da minha admiração pelo cargo que exercia o juiz, sempre permitia que eu ficasse na porta do auditório, de onde eu conseguia divisar a figura do dr. Cachuba, austera e imponente a dirigir os trabalhos do júri.

Naquela época eu dizia para meus amigos: “Um dia eu vou ser juiz, igual ao dr. Cachuba”. Isso tomei como o objetivo maior de minha vida. Um pequeno engraxate, de pé no chão que se mirou na figura do admirado magistrado, após muita luta conseguiu formar-se em Direito, em 1975, pela Faculdade Estadual de Direito de Jacarezinho e concluindo o objetivo almejado, foi aprovado no concurso de juiz substituto, em 1981.

Hoje, após mais de 20 anos, ainda sou juiz atuante, em Curitiba. Sei que nunca fui ou serei igual ao juiz que me inspirou, mas sei que, como ele, sempre procurei honrar a toga que uso diariamente.

Desembargador Cachuba, que o juiz dos juízes (exaltação do desembargador Renato Pedroso) dê ao senhor o acolhimento merecido, que sua alma seja laureada e permaneça entre os humildes e justos.

José Carlos Dalacqua

é juiz de Direito.

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