Não foi à toa que o senador José Sarney (PMDB-AP) lançou-se candidato à presidência do Senado com o discurso de ?ajudar? o governo petista antes mesmo da eleição de Luiz Inácio Lula da Silva.

O mesmo Sarney que nas duas últimas disputas para o comando do Congresso preferiu se esquivar, à espera de uma convocação dos colegas, agora se utiliza de tática inversa. ?Ele será candidato de qualquer maneira e já está se articulando para bater Renan Calheiros (AL) na disputa dentro da bancada do PMDB?, avisa um senador de expressão nacional que acompanha atento os movimentos do ex-presidente.

Na avaliação deste parlamentar, vem aí mais uma guerra interna no PMDB, protagonizada por Sarney e Renan. E como os postos de poder no Congresso interessam a todos os partidos, especialmente ao PT que assume o governo em janeiro, a tendência é a de o conflito ampliar-se, envolvendo as demais legendas em outra batalha: a da cooptação de parlamentares em busca do status de maior bancada, a quem as regras regimentais garantem o direito de indicar o presidente ao plenário.

Velha raposa da política, o parlamentar aposta que o PFL acabará engrossando a candidatura Sarney. ?E também vamos avançar sobre o PSDB, porque o Tasso (Jereissati, senador eleito pelo Ceará) tem os três votos do seu Estado e está conosco?, completa.

O líder Renan e seu PMDB souberam da candidatura do correligionário por meio da entrevista concedida pelo próprio Sarney ao jornal ?O Estado de S.Paulo?, no domingo da eleição. O lançamento irritou a cúpula peemedebista que, nos bastidores, acusa Sarney de se arvorar de ?poder moderador?. Queixas registradas, Renan também tratou de anunciar sua disposição de disputar o posto, se esta for a vontade de sua bancada, é claro. E aproveitou para mandar um recado duplo ao concorrente e ao PT: ?A questão do comando da Câmara e do Senado tem que ser tratada institucionalmente. Se ousarem uma negociação acima dos partidos  isto criará um precedente terrível que vai afetar a governabilidade.?

Os dirigentes do PMDB têm insistido publicamente que estão esperando que o PT os procure para uma conversa institucional. Mas nada de cruzar os braços a espera de uma definição do PT, até porque todos sabem que Sarney teve um papel importante ao declarar voto e defender a eleição de um trabalhador para presidente, no momento da campanha em que Lula vinha sofrendo contestações dentro e fora do País. Enquanto espera, Renan costura apoios dentro e fora de sua bancada, ao mesmo tempo em que opera a filiação de três outros senadores, tentando prevenir-se contra a cooptação de peemedebistas pelo PL e PFL.

A expectativa geral é de que a espera será longa. ?Estão todos cansados de saber que o PT não tem pressa nenhuma sobretudo porque o comando do Congresso não é prioridade do governo nem tampouco da população. Isto só é prioridade para os políticos?, diz um importante articulador da candidatura de Renan. Enquanto um aliado de Sarney garante que ele já tem a simpatia do PT, o parceiro de Renan aposta que o mesmo PT acabará empurrando o ex-presidente para a disputa na bancada, por pura esperteza.

?Se o futuro governo já tem o apoio declarado do Sarney, não há porque jogar o PMDB na oposição radical,? raciocina o cardeal peemedebista, lembrando que a última guerra em torno do comando do Congresso comprometeu a governabilidade da atual administração.

O aliado de Sarney adianta, porém, que em qualquer hipótese seu candidato sairá vencedor. ?Ele já tem o apoio da maioria do PMDB e a candidatura do senador eleito Marco Maciel (PE), tão sonhada pelo PFL, jamais se concretizará. O Lula não aceitaria de forma alguma o vice de Fernando Henrique presidindo o Congresso?.

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