Salvem o rock!

Domingo se comemorou o Dia Mundial do Rock. Para quem não sabe, há 18 anos, o ex-líder da banda Boomtown Rats, Bob Geldof, foi o mentor do show Live Aid, promovido simultaneamente nos estádios de Wembley, em Londres, e JFK, na Filadélfia, para arrecadar fundos destinados às vítimas da fome na Etiópia. O embrião da idéia foi o Band Aid, grupo formado pelas principais estrelas do rock britânico, reunidas em novembro de 1984 para gravar Do they know it?s Christmas? O projeto pretendia arrecadar 72 mil libras esterlinas e acabou faturando 8 milhões em todo o mundo. Os popstar americanos, para não ficar atrás, logo formaram o USA for Africa e gravaram a horrorosa We are the world. Dos dois lados do Atlântico, americanos e britânicos realizaram o Live Aid no dia 13 de julho de 1985, reunindo feras como B.B. King, Ozzy Osbourne, U2, David Bowie, The Pretenders, Paul McCartney, Neil Young, Robert Plant, Jimmy Page, Mick Jagger e Keith Richards. A partir daí o 13 de julho se tornou o dia mundial do rock.

Curitiba, que tem fama de celeiro de bandas de rock, não teve muitos motivos para festejar a data. A cidade tem excelentes bandas, como Pelebrói Não Sei, Black Maria, Relespública e Bartenders, mas elas não têm recebido o apoio que merecem. A rádio 96 Rock (96,3 MHz), que completou seis anos no domingo, costumava ser o canal de divulgação dos músicos paranaenses e do bom e velho rock?n?roll. Infelizmente, a programação normal da emissora, principalmente de segunda a sexta, nos horários diurnos, descaracterizou-se tanto que ficou irreconhecível. A 96 trocou o rock pelo pop “bagaceira”, a ousadia pelo interesse comercial das gravadoras, a criatividade pela repetição e até a locução ao vivo pela gravada. O desrespeito aos ouvintes é constante. O público fiel protesta, envia e-mails, deixa seu recado na seção Mural no site da rádio (www.96radiorock.com.br/mural.shtml), mas a direção da emissora nem “tchuns”.

Só entram as “músicas de trabalho” impostas pela indústria fonográfica. E dá-lhe Eminem, Kid Abelha, Tribalistas, Engenheiros, Ben Harper e Norah Jones, entre outros, repetidos à exaustão. O programa Arquivo do Rock, que tocava os clássicos, foi substituído por uma excrescência chamada Zona Eleitoral, que reúne as mais pedidas pelos ouvintes entre as tais “músicas de trabalho” (eufemismo para jabá).

O que ainda se salva na 96 são os programas especiais, tais como o Punk Rock Radio (aos domingos, das 19h às 20h), produzido e apresentado por Maurício Singer, e o Rádio Caos (todos os domingos, das 20h às 22h), produzido por Big Lips, Mola Jones e pelo apresentador Rodrigão. O primeiro é um espaço dedicado ao punk “em todas as suas vertentes”. E o segundo é uma mistura irreverente e criativa de poesia, jingles antigos e músicas (geralmente pouco conhecidas) de vários estilos. Incluindo rock.

Ari Silveira  (ari@oestadodoparana.com.br) é chefe de Reportagem de O Estado e ouvinte inconformado da 96

Voltar ao topo