Rodada de Doha

Comércio internacional agressivo e bem amarrado a um equilibrado regime de trocas é uma ferramenta que qualquer país interessado na melhoria do padrão de vida da população deve utilizar com a máxima racionalidade. Terreno movediço por excelência, sobre o qual interagem argutos executivos de venda e hábeis compradores, manipulando montanhas de dinheiro na movimentação das commodities mais procuradas pelo mercado, o contexto é favorável às exportações brasileiras graças ao excelente desempenho da economia globalizada e a demanda ainda aquecida de mercadorias produzidas em larga escala, como o minério de ferro e a soja.

A maioria dos países que realizam o intercâmbio de produtos agrícolas e industriais entre si está associada à Organização Mundial do Comércio (OMC) e procura, no que se convencionou chamar Rodada de Doha, iniciada em 2001 no Qatar, o meio de ratificar um acordo passível de regulamentar as transações bilaterais. Todavia, o que se conseguiu até o momento, nos vários encontros de representantes de países-membros da OMC, é bem pouco quando comparado ao patamar do avanço desejado.

Em resumo, persiste o contencioso alimentado pelas assimetrias existentes entre os Estados Unidos, União Européia e países em processo de desenvolvimento, especificamente os ditos emergentes, entre os quais se destacam Brasil, Rússia, Índia e China, desde algum tempo identificados pela sigla Brics. São eles os países mais influentes do G20, bloco formado para encarar de igual para igual – se é que existe a possibilidade – o enorme poderio dos Estados Unidos e dos países europeus.

O chefe da OMC, Pascal Lamy, já se conformou com o não-cumprimento do acordo sobre as propostas de corte de tarifas industriais e agrícolas, marcado para o final deste mês. Até a reunião agendada para debater o assunto foi cancelada, tendo em vista a persistência das diferenças entre os principais negociadores. Lamy acentuou que ?a notícia não é boa, mas temos de enfrentar a realidade?. A saída foi continuar apelando em prol do esforço coletivo para aprovar a cada vez mais remota Rodada de Doha até o final de dezembro, conforme está estipulado no cronograma de liberalização do comércio mundial.

Na Europa prevalece a forte percepção que os países do G20 não emitem sinais concretos da intenção de as elevadas tarifas industriais que hoje bloqueiam o comércio, embora esses relutem em admitir a responsabilidade de ser apontados como causadores de mais um atraso na conclusão da Rodada de Doha, cujo prazo foi esticado para junho. Enquanto Estados Unidos e União Européia sugerem ao G20 a abertura dos setores industriais e de serviços, o bloco apoiado pelos Estados Unidos pede aos europeus maior acesso ao mercado agrícola comunitário. Do outro lado, a União Européia se alia ao G20 para exigir dos Estados Unidos a redução dos subsídios agrícolas internos. O maior entrave até agora tem sido referendar a fórmula ideal de contrabalançar as três exigências.

Mais que um acordo mercantilista, na essência, os países envolvidos trabalham para conseguir avanços proporcionais lastreados em concessões compartilhadas. Um autêntico cabo-de-guerra.

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