Roberto Jefferson repete velhas acusações e pede saída de ministro

Brasília (AE) – Um dia depois de ter sido o primeiro deputado cassado desde o início da crise do ‘mensalão’, o ex-deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) pediu ao ministro do Turismo, Walfrido dos Mares Guia, que saia do partido, caso queria continuar no governo. Presidente licenciado da legenda, Jefferson voltou a chamar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva de "malandro, no sentido de preguiçoso, e não de batedor de carteira, assaltante e ladrão". O petebista disse que "quer crer" que o presidente não tinha conhecimento do esquema do ‘mensalão’, montado, segundo ele, pelo ex-chefe da Casa Civil, deputado José Dirceu (PT-SP).

"Faço um apelo à minha bancada para que se afaste do governo. Eu tive uma conversa com o Walfrido (ministro do Turismo) e ele me disse que, a partir do momento em que eu fosse criticar o presidente Lula, como eu estou fazendo duramente, ele se desligaria do PTB porque ficaria no governo. Então, é hora de fazê-lo", afirmou. Caso contrário, prosseguiu Jefferson, o titular da pasta do Turismo ira reduzir a legenda a um "traque". "O Ministério do Turismo é um traque. E se o PTB ficar atrelado ao governo será um partido de traque. Estamos perdendo a oportunidade de fazer o discurso da oposição, que partiu de nós. Estamos permitindo que o PSDB e o PFL se assenhorem do discurso que é do PTB, está errado", afirmou. "Essa é influência que eu quero ter. Temos que nos afastar. E (espero) que o Walfrido cumpra o que combinou comigo, que se desligue e permaneça leal ao presidente Lula."

O homem que denunciou o ‘mensalão’ disse que já começou a recolher os R$ 4 milhões que afirmou ter recebido do PT – fruto de acordo nas eleições de 2004. O dinheiro, segundo ele, foi "integralmente" distribuído para prefeitos e outros petebistas que concorreram nas eleições de 2004.

O resgate dos recursos, segundo o ex-deputado, está sendo feito pela "via legal, e não por caixa 2". Ele não revelou os nomes dos petebistas que teriam recebido o dinheiro, mas ressaltou que faz questão de devolver os R$ 4 milhões ao PT. "Meus companheiros de partido sabem como eu reparti (o dinheiro). Estou tentando (fazer com) que me devolvam, para eu devolver ao PT." "Eu não estou preocupado mais com o que julga a Câmara, o PT, minha preocupação é a opinião pública e eu quero devolver."

Ao bater duro no governo de Lula, repetindo parte do discurso de despedida que fez na tribuna, Jefferson afirmou que a impressão que tem é que "o escuto socialista justificaria o assalto aos cofres públicos". E acrescentou: "Eles tinham a imunidade ideológica para roubar. Rato magro. Comeram boi com chifre e tudo."

Vestindo calça jeans e camisa azul, Jefferson se mostrou aliviado hoje, na primeira entrevista coletiva após ter perdido o mandato. "É igual doente terminal. Chega. O processo em si é uma tortura. Mata a pessoa de angústia e de sofrimento." "Graças a Deus só durou cinco meses. Do dia 14 de maio ao dia 14 de setembro. E 14 é um número cabalístico. É o número do PTB e do dia em que nasci." Mas admitiu que "a ficha ainda não caiu" ao comentar a cassação, aprovada por 313 votos a favor, 156 contra e 20 de abstenção, nulos ou em branco. "Nunca acreditei que seria absolvido pela Câmara dos Deputados. Meu discurso foi de despedida", comentou. "Sabia que o meu desfecho ontem seria aquele (a cassação). Só não sabia que o número seria aquele cabalístico, 313. Os 300 picaretas do Lula e o 13 do PT."

Na sede do partido, ao lado de outros deputados do PTB, entre eles o líder da legenda, José Múcio (PE), disse que não deseja o impeachment do presidente Lula e que concorda com o petista, que se mostrou aliviado ao ser informado da cassação de Jefferson. "Eu quero que ele vá até o final. Cada dia uma agonia. A máscara do PT está caindo e a do governo dele também. Se você interromper agora, ele pode dar uma de Chavez (Hugo). Deixa ele lá. Ele está cumprindo um papel. Tem um acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI). Não vai haver crise econômica", afirmou. "Eu acho que ele deve se sentir aliviado mesmo. Eu, no meu mandato, estava sendo um incômodo muito grande para o governo dele."

O presidente licenciado do PTB disse que continua no partido, mas que não vai voltar a assumir o comando da sigla. Afirmou ainda que vai requerer a aposentadoria como parlamentar – foi deputado durante 23 anos. "É claro que sim (vai pedir a aposentadoria). Vai ser difícil para mim daqui para frente", justificou.

Jefferson disse que não pretende voltar a ser deputado, mesmo que o Supremo Tribunal Federal (STF) lhe assegure de volta seus direitos políticos. "Não quero nunca mais voltar para a Câmara", afirmou com firmeza. "Vou ser um militante", comentou, acrescentando ainda que vai voltar a advogar e que aceitou convite de uma gravadora para lançar um CD com músicas napolitanas.

Antes de seguir à pé para a sede do PTB, onde deu entrevista, Jefferson passou o dia no apartamento funcional que ocupa – segundo ele até o final do mês – na Asa Norte. Acordou cedo e por duas horas fez aula de canto. Optou por músicas americanas. Disse que a do momento é "My Way" e que fez tudo do seu modo. Não demostrou arrependimento, a não ser por ter retirado seu nome do pedido de abertura da CPI dos Correios.

Eleição

O ex-deputado elogiou o vice-presidente e ministro da Defesa, José Alencar (sem-partido- MG). Disse tratar-se de "um grande nome", e que a exemplo do ex-governador do Rio de Janeiro Anthony Garotinho (PMDB), pode ser uma alternativa em 2006. Revelou estar havendo negociações para que Alencar ingresse no PTB, e que o caminho ideal do partido nas eleições do ano que vem seria a candidatura própria. Sobre as articulações, porém, disse não estar participando diretamente. "Eu estou meio aidético. Tenho evitado desgastar as pessoas com a minha presença." Encerrou a entrevista. Mas não baixou a cabeça.

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