Retorno à planície

Está marcada para a próxima quarta-feira a volta do deputado José Dirceu de Oliveira e Silva ao plenário da Câmara. Encerrou-se o período de dois anos e meio de protagonismo do antigo militante petista na chefia da Casa Civil, onde pontificou como figura maior do governo até a clamorosa resvalada de Waldomiro Diniz.

A sobrevida de José Dirceu no ministério, que muitos estão cobertos de razão quando afirmam ter durado mais que o necessário, tendo por inaceitável o fato da exposição do presidente da República a uma situação constrangedora, terminou com um discurso eivado de lugares-comuns e apelos nostálgicos destinados a ganhar a simpatia do público interno.

Foi preciso um argumento brandido pelo grande vilão do governo, a figura operística de Roberto Jefferson, para dar-se a saída imediata do chefe da Casa Civil, sob pena de transformar em réu um homem inocente. Toda a evidência acumulada desde a exibição do vídeo da conversa de Waldomiro e Carlinhos Cachoeira não foi suficiente para convencer Dirceu que o melhor a fazer seria deixar o governo.

Chegou o momento e o próprio ex-ministro está convicto disso, de defender-se na planície, onde todos os homens têm o mesmo espaço, as mesmas armas e pouquíssimas diferenças entre si. O ex-dirigente estudantil, preso e exilado, curtido pelo rude embate nas trincheiras da luta política, parece ter chegado ao ponto mais crítico de sua trajetória.

Sendo preciso se defrontar com uma experiência amarga e não programada numa projeção desenhada para ficar a salvo do fracasso, que José Dirceu aproveite bem a oportunidade e retorne ao cenário com humildade não fingida, a fim de recuperar parte do patrimônio que alardeia ter construído.

Reflita o deputado numa das declarações do discurso de despedida, a de sair Brasil afora a fim de conclamar o PT e a sociedade a defenderem o projeto sociopolítico em construção no Brasil, em última análise, motivo de ira e inveja por parte de setores não conformados com o sucesso do presidente Lula.

Passada a forte emoção da renúncia, após necessária e benfazeja meditação nos erros e acertos, é possível que o próprio José Dirceu remonte sua proposta e se refaça dos golpes, apenas como esforçado membro da base política do governo.

Nenhum outro esforço será tão digno ou exigido de quem sofreu uma derrota, mas ainda mostra-se disposto a resistir.

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