Responsabilidade oficial zero

Que fim levaram, afinal, as responsabilidades do governo? Não vale nem a pena falar que os nossos parlamentares acabam de elevar seus salários às alturas. Melhor é ficar na responsabilidade dos nossos órgãos oficiais. Se você precisa de saúde, melhor manter um plano privado. Se seu filho vai estudar, melhor é matriculá-lo numa escola particular. Se você pensa em aposentadoria, melhor escolher um bom plano privado. Se você imagina que pode ter segurança, melhor é contratar uma boa firma particular, fazer um excelente seguro de carro, casa e pessoal e ainda contratar uma boa indústria de esquadrias para cercar o seu patrimônio. Se você ainda não dispõe de casa própria, melhor procurar uma construtora que tenha financiamento próprio porque os incentivos da Caixa Econômica Federal custeados pelo FGTS estão todos fechados e lá a burocracia é a mais rigorosa de todas. Se você vai viajar e espera ter boas estradas pela frente, saiba que por detrás disso existe um caro e intransponível pedágio. Afinal, amigo, está na iniciativa privada todo o compromisso social que o governo deveria ter. Ainda estão privatizando a telefonia, o serviço de lixo, o serviço de água e esgoto e até o de energia elétrica. É tudo na base do “cascalho”. A responsabilidade social do governo, de uma hora para outra, se transformou apenas em fixar e cobrar impostos. A bola de neve dos compromissos financeiros de quem nasce neste Brasil varonil, sem dúvida, cresce a passos largos. E ninguém sabe explicar por que estamos nesta situação.

É muito interessante a gente aplaudir o governo construção do gigantesco Olho Mágico da Cultura, quando nossos filhos, nos mais distantes bairros da cidade, clamam por uma mísera vaga na escola que não existe. Que as creches públicas estão sempre superlotadas e é preciso construir outras. É maravilhoso olharmos para a paisagem dos nossos gigantescos parques e obras públicas faraônicas, mas é estarrecedor cruzarmos nossos olhos nas favelas que se alastram nas margens das rodovias.

Nós temos que entender que a sociedade, lamentavelmente, elege representantes de classes dominantes para administrar o dinheiro de todos, que o pobre, o carente, tem apenas lugar à margem da sociedade. Os verdadeiros ladrões estão sempre impunes, escondidos nos seus gabinetes com ar-condicionado, tapetes importados e confortavelmente instalados. Pobre mofa na cadeia, mesmo que tenha a menor culpa nos grandes ou pequenos crimes.

Estamos assistindo de braços cruzados nos enganarem a cada instante. Gerações vão passando e nenhuma providência vem sendo tomada para que as posições se invertam. Somos frutos de idéias calculistas e escravos da subserviência pública.

Os governos se repetem, as esperanças se renovam, mas nada de expansivo acontece. As benesses aos amigos dos reis, os compromissos aos seus algozes.

Tomara que o “Lulinha Paz e Amor” mude um pouco esse quadro. Que ele lembre do pau-de-arara quando sentar na confortável cadeira do Planalto. Pelo menos o povo espera que ele lembre.

Osni Gomes

(osni@pron.com.br) é jornalista, editor em O Estado e escreve aos sábados neste espaço.

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