Surpreendendo o mercado, o Banco Central, através do Conselho de Política Econômica (Copom), elevou de 19,25% para 19,50% ao ano a taxa básica de juros, a Selic. Analistas havia de duas tendências: os que entendiam que o governo desta vez interromperia a longa seqüência de altas que vem ditando, mantendo os juros em 19,25%. O Copom, de acordo com outra corrente, iria insistir em sua política de aperto monetário para combater a inflação, mas já dando sinais de que não mais acredita em efeitos imediatos e visíveis no processo inflacionário. Nem uma coisa, nem outra. Os juros só estiveram mais altos em setembro de 2003, quando foram fixados em 20%.

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Há de parte do BC um posicionamento sobre o assunto com justificativas pretensamente técnicas, que assegura que juros mais altos significam uma barreira efetiva contra a alta da inflação. Dinheiro mais caro significaria retração da demanda e, portanto, maior equilíbrio com a oferta, equilibrando os preços.

Acontece que essa política, repetida mês a mês, vem se provando inútil ou até mesmo contrária aos objetivos anunciados. A cada vez que o BC sobe os juros, recrudesce o processo inflacionário e, nos últimos tempos, apesar de o preço do dinheiro já estar num de seus pontos mais altos, as taxas de inflação rompem todas as barreiras e já não se tem assegurada a taxa de inflação desejada, prevista para o passado nem esperada para o futuro. O mercado parece precaver-se, indexando preços futuros às expectativas de dinheiro, também no futuro, mais caro.

De outro lado, cresce o número daqueles que não mais crêem que o problema da nossa inflação seja de demanda. Que os preços sobem porque há maior procura por bens e serviços do que oferta. E aí funcionaria o mecanismo clássico da lei da oferta e da procura.

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Vivemos numa economia carente de recursos para investimentos, sejam para a indústria como para o comércio, na formação de seus estoques. As altas dos juros ditadas pelo Copom, ao invés de retraírem a procura, fazem com que o mercado se previna subindo desde logo os preços e, em conseqüência, montando um cenário mais perigoso de inflação futura elevada.

Por sua vez, o governo, através de programas como os empréstimos para aposentados e pensionistas e o microcrédito, vem injetando recursos em grande volume nos meios de pagamento, de certa forma anulando o processo inibidor que as altas de juros promoveriam.

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Após o anúncio do Copom, a Federação do Comércio de São Paulo reduziu sua previsão de crescimento do comércio de 4% para 3%. A alta foi repudiada pela indústria e centrais sindicais. E os bancos e financeiras já passaram a cobrar mais de 100% de juros ao ano em certas modalidades de crédito. O resultado será dinheiro mais caro e, mesmo assim, inflação mais elevada. Tudo o que a equipe do ministro Palocci não quer. Sou será que quer?