Régua estava errada, diz Palocci

O ex-ministro da Fazenda e atual deputado federal pelo PT-SP, Antônio Palocci, elogiou ontem à noite os ajustes na metodologia de cálculo do Produto Interno Bruto (PIB) feitos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) – o instituto revisou o crescimento da economia em 2006 de 2,9% para 3,7%. "A questão mais comum era ‘por que o Brasil consertou tanto suas contas principais e cresce tão pouco?’. A polêmica aumentava porque não se tinha uma resposta. O IBGE resolveu parte da dúvida: era a régua que estava errada", disse Palocci, durante noite de autógrafos em Ribeirão Preto de seu terceiro livro, "Sobre Formigas e Cigarras" (Editora Objetiva, 256 páginas).

Palocci disse não estar fazendo uma crítica ao IBGE. "O aperfeiçoamento de regras de medição é permanente no mundo todo. Então, quando o IBGE faz isso e dá os números reais ou mais próximos do real, vemos que não crescemos tão pouco". Sobre a questão do crescimento, Palocci informou que, em seu livro, teve a preocupação em mostrar algumas opiniões, pontos de vista sobre a economia, "que não se pretende de forma alguma sejam a verdade". "É passível de críticas, mas é uma experiência que a gente tem até uma certa obrigação de transmitir às pessoas da maneira mais transparente, para que elas possam dialogar, opinar polemizar. Penso que é assim que a gente constrói saídas melhores para o País", afirmou o deputado.

Indagado se considera que a economia está no rumo certo ou se faria diferente, Palocci foi enfático: "Não acho que faria melhor que ninguém". Para Palocci, a média de crescimento deste último período "foi bem razoável, tirando o ano de crise", por ter ficado numa média acima de 3,5%. "E nós crescemos acima de 5 7% em 2004. Então é uma boa notícia, não para o governo, nem para mim como ministro da Fazenda, mas para o País, mostrando que de fato ele tem uma força de crescimento maior".

Segundo o ex-ministro, o Plano de Aceleração do Crescimento (PAC) tem importância para a continuidade desse movimento positivo, por colocar foco no investimento, que até então sempre "perdia" para o "time do custeio". Palocci também destacou o bom momento da conjuntura internacional. "Tivemos essa turbulência na bolsa (a volatilidade originada na China), que já passou. Ou seja, foi um ajuste de posições que mostrou não ter fôlego. E o Brasil ficou com sua musculatura bastante rígida, mostrou que já está preparado inclusive para enfrentar chuvas e trovoadas".

Palocci aposta num bom crescimento em 2007, que deverá ganhar robustez nos próximos anos. "Acho que o Brasil não pode perder oportunidades. Tivemos diversas e perdemos a maioria por desequilíbrios de contas externas, e ficais. O País tem na sua infra-estrutura e produção elementos que são muito importantes na principal pauta do mundo hoje, que é o desenvolvimento ambientalmente sustentável e o fato de ter o etanol, a Amazônia, florestas e reservas legais importantes, além de produzir fazer energia elétrica e hidrelétrica", exemplificou.

Na opinião dele, esses serão "os melhores instrumentos de ação e intervenção" para o Brasil. "Nunca tivemos essa oportunidade de caminhar para sermos um País robusto, mais forte, mais rico e mais justo. Governo e oposição podem polemizar, brigar pelas idéias, mas não podemos perder a oportunidades de tomar todas as difíceis decisões que têm de ser tomadas para o País caminhar bem", apregoou Palocci.

Congresso

Quanto ao comportamento da oposição na Câmara do Deputados no que concerne às votações referentes ao PAC como forma de pressão para instauração da CPI do Apagão, Palocci disse que na última semana a demonstração foi de que não vai haver mais trancamento de pauta. "Não percebo uma vontade de obstruir o PAC. Foi feito um jogo de obstrução que é legítimo, faz parte do direito da minoria exercer. Acho que (os opositores) vão participar desse esforço, fazer propostas de mudança, o que é positivo, e o PAC vai ser aprovado".

Noite de autógrafos

Palocci chegou por volta das 21 horas, cercado por admiradores e assessores, que durante toda a noite formaram uma espécie de cordão ao seu redor. A imagem era bem diferente da estampada na capa de seu livro, em que Palocci aparece em meio a um "mar" de microfones e gravadores de jornalistas.

Ao público presente, Palocci falou de sua satisfação de estar entre amigos e familiares. "Fui convidado para fazer o lançamento do livro em várias cidades, mas escolhi Ribeirão Preto", disse, no local em que já foi prefeito. "Nesse livro busquei fazer o relato de um trabalho muito intenso, muito difícil. Um dos maiores desafios do Brasil é a economia. Eu fui chamado como médico para cuidar de um paciente enfermo e acho que demos conta do recado. Por isso, não podia deixar de relatar de forma a contribuir com o País sobre os desafios que enfrentamos nessa área".

Palocci disse que não teve a intenção de fazer um livro de "certezas econômicas" e que procurou escrever de forma precisa e direta, "desmistificando as relações de poder e de governo para que as pessoas tenham contato com esse universo".

Sobre o título do livro, Palocci afirmou: "As cigarras também trabalham. Formigas e cigarras são partes importantes do bosque, cada uma, à sua maneira, faz o seu trabalho. Na economia tem aqueles que defendem mais poupança e pensamento no futuro e aqueles que defendem mais o do presente. Mas todos têm uma função e um valor no debate", disse, sem especificar quem seriam as formigas e as cigarras.

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