A reeleição de Lula ou de qualquer outro presidente da República deveria ser assunto a ser discutido no tempo azado, sem precipitações. Isso porque a intenção, já declarada e apregoada, da reeleição, notadamente em se tratando de ocupante da chefia do Executivo, pode distorcer suas ações que, muitas vezes, exigem trilhar caminhos pedregosos e impopulares. Assim tem de ser, para o bem do próprio povo.
Os governantes bonzinhos nem sempre são bons. Seu desejo de agradar às massas e ir granjeando votos para as eleições, os tira de suas funções de governantes e os leva à de candidatos. E a estes, mais coisas são permitidas que aos que têm a efetiva responsabilidade de governar.
O povo reelege se o governo for bom. Não reelege quando, de bom, só tem ainda promessas, a menos que, pela demagogia, a mentira, a manipulação, seja conduzido a acreditar em benefícios passados, presentes e futuros inexistentes.
Deve-se ter o maior respeito por Lula. Ele é o presidente do Brasil, o que basta para respeitá-lo. É um chefe de Estado. Mais ainda por sua história política, que é sublinhada por uma luta de 24 anos, pregando idéias geralmente contrárias às defendidas por seus adversários. Verdade que, depois que assumiu, Lula passou a ler pela mesma cartilha. Mas isso é outra história.
Pode ser que precisemos, no tempo certo, discutir a reeleição do presidente e até sair em campanha com esse objetivo. Hora de descer do poder para subir nos palanques.
Mas hoje, reeleger Lula por quê?
Porque ele conseguiu o Fome Zero, desejável, porém mirabolante promessa que fez. Ainda há milhões de brasileiros passando fome e do programa pouco ou nada se sabe, talvez porque seja tão inexpressivo que quase invisível.
Reelegê-lo porque criou dez milhões de empregos ou a quantidade necessária para chegar, no final do seu mandato, a esse desejável número?
Diz a propaganda governamental que já criou mais de um milhão de empregos. É pouco, considerando-se a estratosférica promessa, e os postos criados não podem ser atribuídos ao governo e sim a sopros de desenvolvimento que o País tem vivido.
Os recursos que se reclama não são subtraídos dos superávites para pagar a dívida externa e a interna, obedientes ao FMI. Continuam elevadíssimos e nem um naco tem sido destinado ao nosso desenvolvimento econômico. Ponto positivo, e aí sem desmentidos, é o sucesso no comércio externo, bastante, mas que não basta para convencer de que um presidente precisa ser reeleito.
Seriam as reformas a recomendar a reeleição? A da Previdência nem terminada foi ainda e não se sabe bem se sua clientela foi beneficiada ou prejudicada. O que se sabe é que, a longo prazo, só a própria Previdência ganhou alguma coisa ou passou a perder menos. Reeleger por causa do novo salário mínimo, prometido em valores menos indecentes? O concedido é ridiculamente baixo.
O controle da inflação ainda não se fez. É uma gangorra. E quando o governo fala em índices constantes de modesto crescimento econômico, vem uma paulada do IBGE mostrando uma inflação, em junho, que é a maior desde abril de 2003.
A reforma tributária seria uma carta na manga para ganhar a reeleição? Até agora, só tem sido acusada de majorar a carga fiscal e não poucas emendas estão sendo reclamadas, para que fique de bom tamanho. Por enquanto, só é boa e grande para o Tesouro, que repete, mês a mês, recordes de arrecadação.
Não é hora de falar num segundo governo de Lula, pois ele nem começou, de fato, o primeiro.