Racha no PT

O governo Lula e, principalmente, o PT passam por conflitos de difícil equação. No que se refere ao governo, esses conflitos são mais fáceis de ser solucionados, já que se trata de uma administração liderada pelos petistas, mas que abriga outros partidos e um sem-número de adesistas, aos quais interessam o poder e cargos, pouco importa o preço. No que respeita a Lula e o seu PT, a coisa é bem mais complicada, pois são 23 anos de pregação programática e ideológica. Embora dividido em várias alas, umas mais e outras menos à esquerda, a verdade é que o PT, se não é mais um partido socialista, pelo menos continua afirmando ser uma agremiação preocupada com o social. E contra o capitalismo selvagem, as privatizações, o livre funcionamento das leis de mercado, admitindo e até preferindo a interferência estatal na economia.

Assumindo, Lula confirmou o que dissera em campanha. Que cumpriria contratos firmados pelo Brasil e seguiria uma política econômico-financeira suficientemente ortodoxa para manter a confiança do mercado. É a política do ministro da Fazenda, Antônio Palocci Filho, alvo de duros ataques dos que se mantiveram presos ao ideário esquerdista que é da história do partido. Agora, surge importante problema para evidenciar a divisão de águas dentro do governo e dentro do PT. A bancada federal do PT, em reunião fechada que durou duas horas, debateu e votou um posicionamento sobre a independência ou não do Banco Central. Essa autonomia é defendida pela equipe econômica e já o era pelo governo FHC. Dá mais confiança ao mercado, fazendo com que o BC funcione como autoridade financeira livre de interferências da administração federal.

As alas petistas históricas são contra a autonomia. Consideram-na um meio de colocar a autoridade financeira nas mãos dos bancos, alijando o governo de suas decisões. Autônomo, o governo apenas indica a direção do BC que é submetida à chancela do Congresso e tem mandato de cinco anos.

Naquela reunião petista, sessenta e três dos noventa e dois deputados da bancada estavam presentes. Cerca de duas dezenas discursaram, alguns de forma inflamada, gerando discussões e ruidosos bate-bocas. Os favoráveis à autonomia venceram por 40 votos contra 20, havendo três abstenções. Vê-se por esse resultado que abre a possibilidade da autonomia do Banco Central, que a oposição à medida, dentro do próprio PT, é grande e forte. E mais forte se revelou pelo tom dos pronunciamentos.

“Estamos aqui decidindo se o presidente Lula pode conter esta bancada ou não”, disse em tom elevado para ser escutado até de fora do ambiente, o deputado mineiro Patrus Ananias. Segundo o parlamentar mineiro, a reunião decidia “o futuro do governo, que está em dificuldade”. O paraense Babá, deputado de esquerda mais rebelde do PT, declarou que “lamentavelmente, aprovaram uma proposta sem nenhum debate aprofundado. Trouxeram a maioria deles até aqui para assegurar a aprovação sem discussão”. E completou que seu grupo não decidiu ainda se vai cumprir o que foi definido no encontro. Depois da reunião, continuaram os bate-bocas, já então com a participação da deputada Luciana Genro, também contrária e filha do ministro Tarso Genro, confirmando que a independência ou não do Banco Central é uma questão vital na luta entre os que no governo detêm o poder e os que se agarram às idéias partidárias ortodoxas.

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