“Que País é esse?”

Fiquei aterrorizado ontem ao ver as imagens da onda de violência que tomou o Rio de Janeiro. Como diz a letra de uma música do grupo Legião Urbana: “Que País é esse?” É de nos causar pavor verificar que traficantes tenham o poder de parar a segunda mais importante cidade do Brasil, explodindo bombas, destruindo veículos, proibindo circulação de ônibus, atacando policiais e determinando o fechamento do comércio em diversos bairros.

Enquanto falamos constantemente em guerra no Oriente Médio, esquecemos que nossa guerra é muita mais árdua e longa que a que os norte-americanos, infelizmente, querem declarar ao Iraque. Os marginais foram tão petulantes, que 24 horas depois da ação coordenada, houve uma queima de fogos de mais de dez minutos em favelas da Tijuca.

E todos sabem que são as cabeças pensantes, ou digamos mentes mórbidas e doentias, que comandaram e comandam tais atrocidades contra os direitos humanos. Basta lermos os jornais diariamente que os nomes aparecem. Diria eu, talvez, que a imprensa tem mais informações que a própria polícia, que também sofre com as precárias condições de trabalho. Ademais, o Rio de Janeiro é um caso a parte, que merece ser tratado em nível nacional, com a ajuda fundamental do governo federal, através das Forças Armadas.

E parece que essa é a intenção da governadora Rosinha Garotinho, que admitiu ontem a possibilidade de as Forças Armadas ocuparem áreas violentas do Rio de Janeiro. A idéia foi defendida pelo secretário de Segurança Pública do Rio, Josias Quintal. Inclusive já houve conversas nesse sentido com o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos,

Na segunda-feira, porém, ouvi uma declaração do ministro Thomaz, sobre a transferência de Fernandinho Beira-Mar para outro estado, que confesso fiquei preocupado. Isso porque na gestão de Fernando Henrique várias vezes foi tentada a transferência desse marginal, que se tornou mais um popstar, entretanto todas sem efeitos. Transpareceu que o ministro não se apercebeu que ninguém quer tal traficante em seu estado ou que a gestão anterior foi omissa para prejudicar os então governantes do Rio de Janeiro, que se tornaram posteriormente adversários políticos do candidato à Presidência de FHC, José Serra. Todavia, a primeira hipótese é a mais aceitável, pois que governador seria maluco de levar tamanho problema para seu povo.

Entretanto, o que vale é que parece que finalmente as autoridades voltam a abrir os olhos para, segurança pública, que nos últimos meses foi relegada a segundo plano, como já se tinha alertado nesse mesmo espaço algumas edições atrás. Agora chegou o momento de uma união de esforços para pôr um basta a tamanha arrogância, impunidade e cara-de-pau dos marginais. Escrevo isso, contudo, sem convicção. Pois não vejo forças no poder público, que está corrompido, essa é uma outra história para outro artigo, para vencer essa nossa guerra diária.

Anselmo Meyer

(anselmo@pron.com.br) é editor de Cidades em O Estado.

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