PT tem dificuldades em lidar com casos de corrupção

O redator do Estatuto do PT não tinha razões para imaginar que a Comissão de Ética e Disciplina do partido teria de tratar, um dia, de casos de corrupção.

Talvez por isso o artigo 209 do Estatuto, que lista as 16 razões de infrações éticas e disciplinares, menciona apenas uma hipótese de processo por corrupção – "a improbidade no exercício de mandato parlamentar ou executivo". Todos os outros pontos focam as infrações ideológicas ou programáticas.

Por não ter-se imaginado sob golfadas de corrupção, o PT tem dificuldades notórias de lidar com as acusações que agora desabam sobre seus parlamentares e dirigentes. A entrega, na sede do PT, de uma liminar impedindo o julgamento de Delúbio Soares pareceu ter funcionado mais como um alívio do que um estorvo para os lideranças petistas, que assim se livravam, pelo menos hoje, da obrigação de manejar a guilhotina e expulsar o ex-tesoureiro do partido.

Ao chegar para a reunião, o senador Aloízio Mercadante criticou Delúbio, afirmando que não há clima para ele continuar no PT. Mas não conseguiu responder de forma cabal por que o partido foi tão rápido para concretizar expulsões ideológicas, mas deixa que as expulsões por corrupção se arrastem.

Para o deputado Paulo Rocha (PA), ele mesmo envolvido no escândalo do mensalão, o ideal seria Delúbio se afastar do PT. "Ele tem de ter consciência e sair", disse. Por que o PT teme expulsá-lo? "Não há temor de expulsá-lo. É que o PT é um partido democrático."

O ex-presidente da Comissão de Ética Danilo Camargo, que comandou as expulsões de deputados que votaram em desacordo com o partido, explicou que "qualquer pessoa acusada tem o direito de se defender". O deputado Professor Luizinho (SP), outro envolvido no escândalo do mensalão, também se posicionou por um "amplo" direito de defesa dos acusados.

Quando o deputado Chico Alencar propôs que o PT apoiasse o afastamento do presidente da Câmara por 60 dias, Mercadante colocou panos quentes: "Um homem público não pode ser acusado desta maneira. É preciso checar as denúncias e dar oportunidade de defesa aos acusados".

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