Protesto contra Lula reúne 10 mil em Brasília

Um dia depois de uma manifestação a favor do governo Luiz Inácio Lula da Silva, a Esplanada dos Ministérios foi ocupada, nesta quarta-feira,por um protesto contra o presidente eleito pelo PT.

Durante quatro horas, os ativistas que em grande medida estiveram ao lado de Lula, entoaram palavras de ordem como "Fora Lula", "Lula traidor", "Lula sabia, Marcos Valério é o seu PC Farias", "Lula, que papelão, o PT rouba do povo para pagar o mensalão" e "Olê, olê, olê, olá, fora, Lula".

A Polícia Militar avaliou que cerca de 10 mil pessoas participaram da passeata e que durante o ato final, em frente ao Congresso, esse número caiu para algo entre 5 mil e 6 mil. Apesar de gritarem "Fora Lula", em nenhum momento os manifestantes falaram em impeachment. Isso porque o protesto foi dominado por ativistas de ultra-esquerda, como os do PSTU, que querem todos fora: Lula, os parlamentares, o PT, o PFL e o PSDB.

Conforme discurso repetido ao longo da manifestação, eles consideram que "nenhum deles representa o povo". O PSol, que também organizou a marcha, não reconhece a legitimidade do Congresso. "Quem vai julgar o Lula? O José Dirceu? Os deputados do mensalão?", perguntou o ex-deputado Milton Temer (RJ), que saiu do PT e aderiu ao partido da senadora Heloisa Helena (AL).

Da manifestação de hoje participaram ainda o PDT, o PPS e o PCB, partidos que fazem oposição menos radicais. Logo no início da marcha, Marco Antonio, o representante da Liga Bolchevista Internacionalista, pediu que PDT e PPS, por terem sido da base do governo Lula, fossem excluídos do protesto. Sua proposta não foi levada em consideração.

O Prona do deputado Enéas Carneiro (SP) mandou para a manifestação o deputado distrital de Brasília José Edmar, que recentemente ficou quase três meses preso por supostamente participar de uma quadrilha de grileiros de terras na capital.

O Movimento Anarquista, que não tinha sido convidado, apossou-se da dianteira da marcha e quase provocou confusão, porque tapou a grande faixa vermelha preparada pelo PSTU para servir de abre-alas. Vários dos anarquistas carregavam vasilhas de cachaça de dois litros e tomavam a bebida no gargalo. Gritavam: "Eu bebo sim!"

Ao chegarem em frente ao Palácio do Planalto, os anarquistas, já bêbados, começaram a gritar: "O povo, unido, é gente pra caralho".

Ao lado deles, o funcionário público aposentado Campos Velho, conhecido como agitador do carnaval de Brasília, erguia um velho estandarte do Pacotão, bloco famoso pelas críticas ácidas aos governantes desde a ditadura militar. Campos Velho conseguiu irritar muito o presidente do PSTU, José Maria de Almeida, que tentava organizar a comissão de frente, pois gritava bem alto: "O ovo, frito, jamais será cozido".

Nisso, era acompanhado em coro pelos anarquistas. José Maria pediu a um segurança que tirasse o carnavalesco da frente da grande faixa do PSTU. A reação veio logo. "Stalinista, stalinista", gritou Campos Velho para o radical José Maria.

Diferenças

A manifestação de hoje deixou claras as diferenças entre o PSTU e o PSol. Ao subir ao caminhão de som para discursar para uma platéia constituída, na sua maioria, por seguidores de seu partido, José Maria disse que a palavra de ordem hoje é o "Fora todos, Lula, Congresso, PT, PSDB e PFL", porque "a alternativa é um governo de trabalhadores".

Mas ele reconheceu que ainda não há organização para isso. Portanto, acha que somente será possível falar neste tipo de governo quando forem realizadas concentrações, dez, cem, mil vezes maiores.

Em seguida, a senadora Heloisa Helena, que falou pelo PSol, criticou José Maria. Disse que a proposta de seu partido é mais interessante, porque propõe um plebiscito para antecipar as eleições tanto de presidente da República quanto para o Congresso. "O povo é que vai tirar o Lula e esse Congresso apodrecido do poder", disse Heloisa.

Dois mil policiais foram destacados para acompanhar a manifestação, com batalhão de choque, cavalaria e até helicóptero, mas não houve incidentes. Repetiu-se cenas já corriqueiras. Com o sol a pino, manifestantes – principalmente os mais jovens – invadem o espelho d’água do Congresso e jogam água nos coturnos dos policiais, que permanecem impassíveis.

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