Propinoduto

Com a experiência de quem ajudou a fundar o PT – Partido dos Trabalhadores, o ex-ministro da Cultura, Francisco Weffort, vê nos projetos apresentados pelo governo Lula, nos últimos dias, uma demonstração de euforia, inexperiência, incompetência gerencial e falta de “desconfiômetro”. Mais isso tudo e menos o que se desconfia, ou seja, uma ação maquiavélica, regressão autoritária, ou golpe contra valores democráticos. É – está dizendo Weffort – “uma reação desastrada ao denuncismo que Lula e o PT ajudaram a engordar”.

Pode ser. O ex-ministro sabe das coisas. E por saber ele vai além, ao nos fazer ver que estamos assistindo ao caso de um líder, o Lula, e de um partido, o PT, que agora têm de engolir o “denuncismo” que ajudaram a engordar quando estavam na oposição. Nada a reclamar, portanto. Nem mesmo a censurar.

Torcemos, entretanto, para que seja verdadeiro o que Weffort sentencia, quando diz que Lula e o PT, inexperientes e atarantados diante do poder, só agora começam a descobrir que o Estado, e, sobretudo, o governo é mais fraco do que imaginavam – o que, concordamos, é normal nas democracias já sedimentadas: “O governo é mais fraco do que o Estado e este, mais fraco que a sociedade”. Que assim seja, rezemos.

Mas essa sensação de aparente fraqueza no poder pode ter limites. Pelo menos quando se sabe como está funcionando o que alhures já se chamou de “propinoduto” – essa transferência brutal de recursos dos cofres públicos para os cofres do partido. Segundo se informa, o PT estaria amealhando, somente este ano, cerca de 120 milhões de reais, importância proveniente, em sua parte maior, de percentuais compulsórios do salário de pessoal com cargo eletivo ou de confiança, plugado no Estado. Não é pouco. E nem se diga aqui o que se costuma dizer na iniciativa privada – que cada um faz o que quer de seu salário…

Também é importante que a nação preste muita atenção na denúncia que está fazendo o prefeito da pequena cidade de Veranópolis, no Rio Grande do Sul. Desde o início do governo do PT, o município recebeu da União R$ 1,56 milhão. Uma única escola do MST – Movimento dos Trabalhadores Sem Terra, recebeu no mesmo período, através de convênios com os ministérios da Saúde e do Desenvolvimento Agrário, R$ 4,63 milhões. E a escola atende a, no máximo, 300 alunos. Veranópolis tem cerca de 20 mil habitantes.

Mais grave é este fato quando se sabe que essa liberação de recursos para um projeto de ensino do MST está alimentando uma rede – da qual Veranópolis é apenas a ponta do iceberg – paralela de ensino que visa a doutrinação ideológica, muito mais que o combate ao analfabetismo e coisas do gênero. Uma doutrinação ideológica que tem como objetivo principal o rompimento dos padrões ensinados – ou que deveriam sê-lo – nas escolas mantidas pelo Estado, sem a generosa doação de recursos, pelo respeito às leis e normas vigentes, incluindo aí as da propriedade.

Vai daí que nem tudo quanto Weffort credita à inexperiência pode ser levado ao pé da letra. As visitas de Lula a ditaduras da África, o apoio do PT (e também dos sem terra!) a Hugo Chávez, da Venezuela, as viagens do ministro José Dirceu (e do próprio Lula) a Cuba podem não significar alinhamentos ou qualquer coisa parecida com a formação de grupos pela reestruturação de velhos e surrados regimes. Mas também não são apenas golpes de ingênuo marketing, concebido para contrabalançar a adoção de uma política econômica que basicamente herdou de um governo a que deu combate.

Se tiverem seqüência projetos como os últimos anunciados e, principalmente, esse inflar dos cofres do partido à custa do erário público, o tempo dirá se é apenas a inexperiência que norteia o ainda sôfrego caminhar deste governo. A menos que a sociedade consiga, de fato, ser mais forte que o governo e que o próprio Estado em aparelhamento.

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