Profecias de Malpass

Vira e mexe e algum iluminado economista de plantão está a realizar prognósticos sobre o futuro imediato do Brasil. Dependesse deles, ou estaríamos no paraíso, ou ardendo em rubras chamas no inferno do terceiro mundo. Muito pior do que estamos. Essa bisbilhotice sem contrato tem, obviamente, interesses graúdos por trás do aparente exercício da adivinhação, seguido sempre de eficiente divulgação nas áreas onde interessa. A última voz do Apocalipse vem outra vez dos Estados Unidos – a terra também americana onde parece não existir muito empenho para o trabalho e, sim, para a especulação que atropela o trabalho dos outros. David Malpass é seu nome. Seu mau agouro: O Brasil está a caminho de uma moratória.

Ele fala como economista-chefe de um banco entre nós pouco conhecido, o Bear Stearns. Disse, durante uma teleconferência com analistas e investidores que “se não houver mudança na política econômica do País, então haverá uma moratória”. Perguntaram-lhe quando essa moratória haverá de vir, e ele respondeu que o tempo dependerá de como o Fundo Monetário Internacional (FMI) irá operar em relação ao Brasil. Se o Fundo liberar dinheiro agora, então o indigitado evento poderá ficar para depois das eleições. Mas, matando a cobra e mostrando o pau, o profeta entende que dificilmente o FMI abriria as burras…

A pitonisa global disse mais, que há uma premissa no mercado de que a moratória do Brasil somente ocorreria depois das eleições presidenciais, cujo segundo turno acontece em novembro próximo. O Banco Central, disse ele, dispõe de ferramentas capazes de atrasar o processo. Malpass entende que a “volatilidade” acentuada pela incerteza das eleições nada tem a ver com a catástrofe anunciada. Acha mesmo que se Lula ou Ciro ganhar não fará a menor diferença. O grande problema do Brasil, observou, é o crescimento econômico. Sem crescimento econômico, o Brasil não poderá estabilizar a dinâmica da dívida pública. “E o País está afundando rapidamente.”

Deus nos livre desses profetas. Mesmo que estejam cobertos de razão, metem o bedelho na sopa alheia sem serem convidados e com seus palpites malsãos contribuem para transformar pelota em avalanche. Esquecem, entretanto, de falar sobre suas próprias mazelas, mais danosas à volatilidade dos mercados que nossas crônicas diferenças sociais.

Dias atrás, a televisão mostrou a polícia norte-americana prendendo altos executivos, responsáveis por fraudes contábeis até aqui não conhecidas. Ao mesmo tempo, anunciava que, no Congresso, um Tio Sam envergonhado discutia a formulação de leis mais duras para aumentar a cadeia dos aventureiros e piratas da economia global. Seria de bom alvitre que enveredasse também pelas picadas da criminosa emissão de palpites com o declarado objetivo de prejudicar terceiros, sócios ou não. Afinal, mutatis mutandi, isso também é um tipo de terrorismo, exercido nas cavernas acarpetadas dessa parte do primeiro mundo em decomposição. E nada devem a Osama Bin Laden e seus seguidores fanáticos.

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