Primeiro emprego

O programa Primeiro Emprego – já adiado e sem data ainda para começar – foi anunciado pelo ministro do Trabalho, Jaques Wagner, durante a reunião de nove horas do presidente Lula com seus ministros, na Granja do Torto, segunda-feira que passou. Exceto aquele grupo seleto, ninguém sabe ainda como será, mas o ministro garante que a promessa do presidente será cumprida, com a criação de dez milhões de empregos novos ao longo dos quatro anos de governo. Desempregados e candidatos ao trabalho que dignifica agradecem com ânsia. E com impaciência.

No mesmo tom, tivemos outras notícias: o ministro Guido Mantega, do Planejamento, anunciou que ainda este ano haverá “descontingenciamento” de verbas orçamentárias, isto é, os ministros vão receber algum dinheiro para substituir a reclamação costumeira pela ação necessária. Disse também o mesmo Mantega que a taxa de juros vai baixar. Mas condicionou: só quando a inflação estiver sob controle. Ele só não sabe quando o governo vai controlar a inflação. Essa é, entretanto, a diretriz estratégica pela qual se bate o governo, fazendo outra ressalva: quando e como, isso é problema do Copom, isto é, o Conselho de Política Monetária do Banco Central.

Outra notícia relevante da quarta reunião de Lula com sua equipe: não é certo que o funcionalismo público vá receber na folha de maio o reajuste de 1% (mais a gratificação de R$ 59,78) prometido pelo governo. É mais provável que não, pois isso dependeria de medida provisória ou projeto de lei. O mesmo Mantega, com seu sorriso habitual, colaborou para a dúvida: “A proposta legislativa estará sendo enviada ao Congresso nos próximos dias”. Do mesmo encontro, pelo menos uma certeza: a receita melhorou, todos sabem, mas o arrocho vai continuar. “O governo está retendo os investimentos e fazendo uma política macroeconômica ultra-ortodoxa”, sentencia o deputado amazonense Pauderney Avelino, segundo o qual o excesso obtido nos quatro primeiros meses do ano pode chegar a seis bilhões de reais.

É só. O que de fato acontece nas reuniões do Torto, a gente não fica sabendo direito. O estilo petista de governar submete os companheiros não apenas a longos encontros em que é proibido faltar e também sair, mas também a um silêncio sepulcral sobre seus resultados. Um verdadeiro “calvário dos ministros”, conforme se batizou. Neste último encontro, quebraram-se todos os recordes. Também os do silêncio para efeito externo, embora lá dentro todos teriam falado pelo menos dez minutos para entronizar os debates (exceto Lula, que teria falado apenas três), segundo as escassas informações obtidas. Esse estilo explica a reticência existente em quase todas as informações vazadas por Wagner e por Mantega – aparentemente os ministros escalados para falar sem quase nada dizer, principalmente o último, que cuida do Plano Plurianual de Investimentos.

Que o governo fale pouco sobre o que discute, é até compreensível. É preferível isso a esse bate-boca inútil que andou acontecendo aqui e acolá por desastroso acidente, dando margem a especulações e ao nervosismo dos mercados. Importa que ele aja. Mas é forçoso constatar que por enquanto a ação também está fraca. Quem dera esse anúncio do ministro Wagner seja verdadeiro e venha logo acompanhado de cuidados que permitam, de fato, a retomada do crescimento econômico para alegria e felicidade geral da nação. Com a queda da inflação e a derrocada dos juros. Teremos, enfim, encaminhado as coisas na direção da fome zero.

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