Presidente da CPI do Tráfico de Armas conclui que PCC intimida advogados

O presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito do Tráfico de Armas, deputado Moroni Torgan (PFL-CE), afirmou que o depoimento nesta terça-feira da advogada Adriana Pellini Pedro confirma uma desconfiança da CPI: a facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) coopta e intimida advogados, geralmente jovens, para que eles participem de ações do crime.

Em depoimento aberto, a advogada negou ter passado informações e protegido integrantes da organização, mas reconheceu que sente medo de falar em público por receio de ameaças à sua vida ou à sua família. Por causa dessa declaração, a sessão foi fechada ao público e à imprensa.

O 3º vice-presidente da CPI, deputado Neucimar Fraga (PL-ES), informou que a advogada revelou fatos importantes para o avanço na investigação de advogados que trabalham para o crime organizado. Por causa da colaboração, a CPI vai pedir proteção policial para a advogada e a sua família.

Neucimar Fraga diferenciou os advogados que colaboram com a facção dos que são coagidos pelos criminosos. Na opinião do deputado, Adriana já foi cúmplice, mas agora está sendo vítima.

Escuta

A advogada foi confrontada com transcrições de gravações telefônicas feitas pela polícia em junho de 2005. Em uma das ligações, ela teria oferecido ao suposto líder do PCC Aristides Moura Júnior, o Perna, esconderijo em seu escritório após uma fuga. Adriana nega que tenha sido esse o objeto da conversa.

Na versão da advogada, ela se limitou a abrigar o fugitivo em seu escritório enquanto se preparava para levá-lo de volta à polícia. "Meu objetivo era garantir sua integridade física", justificou. Perna foi preso depois que a polícia revistou sua casa e escritório.

Informações de clientes

As ligações seguintes estariam relacionadas a um caso de divórcio, de acordo com a advogada. As gravações revelam conversas nas quais ela passaria informações detalhadas sobre onde os criminosos poderiam assaltar o homem e a mulher divorciados após uma partilha de R$ 50 mil.

Adriana reconheceu ter cometido um ato irresponsável e antiético. No entanto, ela disse saber que nada aconteceria a seus clientes pois as informações eram falsas. De acordo com a advogada, ela forjou a conversa porque desconfiava que seu telefone estaria grampeado e queria comprovar o fato, alertado por um investigador.

Na fita, a advogada teria mandado o criminoso ir atrás do cliente, que estaria na estrada a caminho de Patrocínio Paulista em um carro de determinada marca. O homem teria mudado o percurso, o que evitou o assalto. Em outra gravação, Perna reclama que a informação estaria errada, e então Adriana descreve as condições do escritório do cliente.

A advogada disse que não teve acesso ao inquérito ao qual pertencem as fitas, mas negou que seja cúmplice da tentativa de roubo. Ela disse que não poderia revelar o nome do investigador que a alertou sobre o grampo, porque estaria sofrendo perseguição da polícia de Franca, sua cidade, em decorrência de uma denúncia de tortura policial contra um cliente.

Quebra de sigilo

Moroni Torgan informou que a CPI pediu a quebra do sigilo fiscal e bancário de 15 advogados e pediu investigações sobre outros 34, todos de São Paulo.

Nesta quarta-feira, a CPI vai ouvir Nelson Roberto Vinha, preso sob acusação de entrar com seis celulares e carregadores de bateria no Centro de Detenção Provisória de Mauá (SP); Libânia Catarina Fernandes, acusada pela polícia e pelo Ministério Público de ter sido contratada para transmitir ordens e tarefas para integrantes do PCC; Eduardo Diamante, acusado de formação de quadrilha e associação ao crime; Valéria Dammous, acusada de envolvimento com o crime organizado e formação de quadrilha; e o promotor de Justiça do Grupo de Atuação Especial Regional para Prevenção e Repressão ao Crime Organizado (Gaerco) de Presidente Prudente, Márcio Kuhne Prado Júnior.

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