Poupança e investimentos

O paternalismo, característica histórica do Estado brasileiro, levou os cidadãos e, até certo ponto, as nossas empresas a entender que as responsabilidades do governo são maiores do que seria conveniente. Em conseqüência, seus poderes foram maximizados. E o sistema sempre favoreceu essa posição equivocada, pois o próprio Estado, através dos governantes, exerce como obrigação e como direito o paternalismo. Para melhor acentuar os males dessa característica, tivemos o centralismo. O presidente da República e o governo central é que comandam e mandam. As leis favorecem esse excesso de poderes e a incompetência, entre outras coisas, a incapacidade de exercê-los.

Mesmo não sendo um país socialista, o Brasil preferiu entregar ao governo quase tudo. Seja o que é próprio de sua vocação e o que não é. Sempre tivemos o Estado com poder de polícia, obrigações nas áreas de saúde, educação e previdência que lhe são próprias, embora possam ter a colaboração privada. E o Estado avançou em áreas que apenas excepcionalmente poderiam ser suas, como, por exemplo, o comércio, a indústria e mesmo o setor de serviços.

No governo passado isso mudou um pouco, mas não o suficiente para traçar um novo rumo em que o paternalismo fosse substituído pela assunção, pelo povo e suas instituições privadas, das rédeas das atividades que equivocadamente estavam nas mãos do Estado. Resultados disso foram muitos, dentre eles a perda pela nação do espírito de risco que leva ao empreendedorismo, aos investimentos, à produção e à complementação das obrigações próprias do governo e que este não pode, não sabe ou não quer exercer a contento.

No Brasil paternalista, aplicamos poupanças no mercado financeiro, de preferência nas instituições financeiras do governo, exigindo dele garantias. Investimentos em aplicações de risco, como as ações ou mesmo a implantação de empresas de outra natureza, nunca foram da preferência dos brasileiros, pois exigia-se que o Estado paternalista os garantisse. Por isso, o nosso mercado de capitais sempre foi pequeno e frágil. Poucas são as grandes sociedades anônimas e as maiores, em geral, têm o capital majoritário nas mãos do governo.

Revela-se agora que, numa análise dos últimos nove anos, verifica-se que os fundos de investimentos em papéis financeiros, de empréstimos e não em ações, renderam quatro vezes mais que a produção. A ciranda financeira sempre sobrepujou a produção. Vivemos a situação surrealista de um emprestar para o outro que devolve para o primeiro que empresta novamente, e os juros vão sempre oferecendo um rendimento maior que a produção. A ciranda financeira nos tempos da inflação galopante, antes do Plano Real, enterrou este País num monte de papéis. Alguns inúteis, como o nosso dinheiro, muito desvalorizado.

Uma aplicação conservadora no mercado financeiro rendeu, nesse período de nove anos, quatro vezes mais que o investimento produtivo, além de pagar muito menos impostos. Sobre a produção incidem 61 tributos. Se uma empresa decide fazer uma aplicação financeira de 30 dias, paga apenas 6 impostos. No período, as empresas de capital aberto não-financeiras tiveram um lucro médio de 3,6%. As aplicações financeiras renderam 18,3%. O imposto pago em cinco anos pelas grandes empresas chegou a 889% do seu lucro acumulado. No mercado financeiro, teriam desembolsado apenas 36,6% de impostos sobre os rendimentos.

Somos o País dos papagaios e não o da produção.

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