Duas situações envolvendo o mesmo tema, as Marginais do Pinheiros e do Tietê, provocaram nos últimos dias um desgaste na relação entre o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e seu afilhado político, o prefeito da capital, João Doria, ambos do PSDB.

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O mal-estar teve início há duas semanas, com a divulgação pela Polícia Militar de dados que mostram alta de 56% no número de acidentes com vítimas no primeiro trimestre, quando Doria elevou os limites de velocidade nas vias, na comparação com o mesmo período de 2016.

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Na segunda-feira, as autopistas voltaram à tona com a declaração de Alckmin de que Doria estaria estudando fazer uma concessão para a manutenção das vias. Nenhum dos dois anúncios teriam sido combinados com Doria e, em ambos os casos, houve reação de auxiliares do prefeito para reduzir os danos do que assessores de Doria já classificam como “fogo amigo tucano”.

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Pego de surpresa e sem poder contestar publicamente as estatísticas divulgadas pela PM, Doria atribuiu a má notícia à imprudência dos motoristas e de motociclistas, e ressaltou que não há estudos que façam uma relação direta entre o aumento de acidentes e as mudanças nos limites de velocidade, que passaram de 70 km/h para 90 km/h em janeiro.

Internamente, no entanto, a divulgação para a imprensa dos dados operacionais da PM, que não costumam ser usados para registro de ocorrências, foi vista, no mínimo, como provocação. Isso porque a divulgação de dados relacionados a acidentes na cidade é feita oficialmente pela Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), não pela PM, que justificou a atitude pelo aniversário de 36 anos do Comando de Policiamento de Trânsito e pela intenção de intensificar suas ações nas vias.

2018

Cotado como uma opção do partido para a corrida presidencial de 2018, Doria tem incomodado auxiliares próximos a Alckmin. Oficialmente, a relação entre os dois continua inabalável, mas nos bastidores tanto a equipe da gestão municipal como a estadual já reclamam de ações pontuais com potencial para prejudicar um ou outro.

A divulgação por Alckmin de parte do que foi discutido em uma reunião fechada com Doria no Palácio dos Bandeirantes, na segunda, por exemplo, não estava no script do prefeito, o que gerou mal entendidos que precisaram ser desfeitos ainda no dia seguinte. Na terça, após admitir que estuda a possibilidade de conceder as Marginais à iniciativa privada, em sintonia com o que havia dito o governador, Doria negou a hipótese e afirmou que a administração das vias permanecerá apenas sob o comando da Prefeitura. Mas, apesar de desmentido, Alckmin voltou ontem a citar a ideia publicamente.

Para Doria, foi apenas um desencontro de palavras, que em nada prejudica a relação entre os dois. “Está tudo ótimo conosco. Não há nenhuma hipótese de ruído entre nós ou qualquer tipo de afastamento. A minha relação com o governador é a mais positiva, próxima e afetuosa possível”, afirmou o prefeito.

De estilo mais contido e com fama de fechado, Alckmin tem adotado a mesma linha para falar do aliado – disse ontem que está tudo ótimo entre os dois -, mesmo quando se incomoda com alguma atitude de Doria, como na abertura da Agrishow, feira internacional de tecnologia agrícola realizada em Ribeirão Preto todos os anos. O evento, que tradicionalmente reúne pré-candidatos, contou com o prefeito da capital neste ano.

Os dois não se encontraram, o que levantou ainda mais comentários sobre um suposto racha. Um dos secretários de Alckmin chegou a fazer piadas com a ida de Doria ao interior.

EUA

Na contramão do que chamam de “boatos”, Alckmin e Doria estarão juntos semana que vem nos Estados Unidos. O prefeito receberá, no dia 16, o prêmio de “homem do ano” pela Câmara Americana de Comércio Brasil-Estados Unidos. No dia seguinte, será a vez de Alckmin ser a estrela do evento promovido pelo Lide, o grupo empresarial criado pelo prefeito, em café da manhã com 200 empresários dos dois países. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.